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Israel, quem és tu? (2). A loucura do antissemitismo

Florentino Beirão - 23/11/2023 - 11:18

Inicio esta crónica com palavras roubadas ao historiado Paul Johnson, escritas num dos seus ensaios sobre os judeus: ”há uma irracionalidade inata na febre do antissemitismo: Contradizem-se. Dizem que os judeus são exibicionistas, mas sigilosos. Que não se integram, mas que se imiscuem. Que são ultra-religiosos, mas não têm fé. Que odeiam a cultura, mas impõem a sua. Que evitam trabalhar, mas lucram demasiado. Que são miserabilistas, mas materialistas”.

É esta irracionalidade que atravessa a história deste povo que, de um modo genérico, define o modo de ser e estar dos judeus ao longo dos séculos. Contradições que persistem até hoje. Uma vida de êxodo e de diáspora, difamação, inquisição, campos de concentração e de morte, mas hoje agarrados, com unhas e dentes, ao seu torrão natal que é o Estado de Israel.

A guerra entre os radicais do Hamas, contra o Estado judaico, a partir do fatídico dia sete de Outubro, dá-nos oportunidade de saber um pouco da história dos judeus, depois de já termos conhecido os radicais terroristas do Hamas, num artigo.

Revisitemos, a traços largos, a sua atribulada e dolorosa história, nomeadamente no nosso país, onde vivem já há muitos séculos.

Numa Península Ibérica cristã, Portugal e Espanha, unidos pela espada e pela cruz, o antissemitismo grassou no seu seio com toda a violência. Radica na acusação feita a este povo de terem assassinado Jesus Cristo, também ele judeu. Declarados nas orações oficiais da Cristandade, até há poucos anos, como “ os pérfidos judeus”, esta denominação foi-se alastrando pelos séculos fora, até levaram os reis católicos de Espanha, Isabel I e Fernando II de Aragão, numa vontade de unir a Espanha numa só fé e numa só religião, a expulsar, por real decreto os, judeus em 1492, dos seus reinos. Árabes e judeus que viviam em paz foram expulsos, sem dó nem piedade, deixando os seus bens para trás. Uma boa parte emigrou para Portugal.

Aqui, não encontraram melhor sorte. Perseguidos pelo “Tribunal da Santa Inquisição”, criada por D. João III em Portugal em 1543, os judeus poderiam vir a ser presos e arderem nas fogueiras, após julgamento.

Tendo sido expulsos de Espanha, no reinado de D. Manuel I, rei de Portugal, em 1496, os judeus que haviam saído de Espanha para o nosso país, acabariam por ser igualmente expulsos de Portugal. Uma debandada que levou muitos sábios e homens de negócios para outras terras da Europa, África e Ásia. O antissemitismo dava os seus maléficos frutos, após a Reconquista destes territórios aos mouros.

Quando foram expulsos do nosso país, alguns judeus tentaram resistir e permanecer em Portugal, depois de terem manifestado a sua vontade de se virem a converter ao cristianismo. Chamados cristãos - novos acabariam por ser sujeitos à perseguição da inquisição, no caso de serem apanhados a praticar os seus antigos rituais judaizantes ou de não se identificarem ou negarem os dogmas da Igreja Católica. Com a vinda dos judeus de Espanha para Portugal, calcula-se que, cerca de metade da população da zona raiana do nosso país, aumentou para o dobro. Belmonte, na Beira – Baixa, longe dos centros do poder, é um dos exemplos onde os judeus, nos seus lares, às escondidas das autoridades, continuavam a praticar os seus ritos religiosos. Sobreviver era o lema para tentar fugir à contínua perseguição que a inquisição lhes movia.

Recordemos que os judeus que foram expulsos do no nosso país por D. Manuel I espalharam-se pelo mundo. São agora os seus descendentes, denominados de judeus sefarditas, que, nos últimos anos, têm requerido ao nosso país que os reconheça como cidadãos portugueses. Até este momento, muitos já obtiveram este título de cidadania e outros continuam a aguardar.

Como se sabe, apenas com o Marquês de Pombal no século XVIII, no reinado de D. José I, a perseguição aos cristãos - novos sofreu algum alívio. Pombal queria protege-los dado que, com a sua riqueza, sobretudo do comércio do Brasil, estava nas suas mãos. Mas só após a Revolução libera de 1820, no ano seguinte, a Inquisição acabaria por se eliminada em Portugal.

Recordemos ainda recordar o antissemitismo nazi que criou os campos de concentração para eliminar o povo judeu, como o de Auschwitz. Neste local, foram construídos crematórios para reduzir a cinzas milhões de judeus depois de os terem gaseado nos mortíferos chuveiros.

florentinobeirao@hotmail.com

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