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Leitores: Castelo Branco. O futuro está no sol e na natureza

João Prata Augusto - 27/08/2022 - 12:09

A exposição solar anual atinge níveis claramente elevados - e não só nos tórridos meses de estio - potenciando assim o aproveitamento daquilo que o sol nos disponibiliza.

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O mundo tem vindo a assistir, nos últimos tempos, a mudanças rápidas, impensáveis e imprevisíveis, nomeadamente no que respeita à segurança de todos os habitantes deste planeta, colocando em causa a própria sobrevivência do ser humano.

Aos fenómenos relativos às alterações climáticas, ao aquecimento global e ao aumento do CO2 na atmosfera, que se verificam e têm verificado um pouco por todo o lado, com ocorrências extremas – secas prolongadas, falta de água potável, ondas de calor em maior número, incêndios devastadores, pluviosidade excessiva em determinados locais, inundações, tornados, etc. - somaram-se a pandemia do coronavírus e, mais recentemente, a invasão russa à Ucrânia e o consequente perigo da escalada do conflito para um nível nuclear.

Em diversa escala e em diferentes graus, em velocidades distintas, todos estes fenómenos ameaçam a nossa existência, pondo em dúvida o futuro, sobretudo porque a questão principal passou a ser – havendo futuro para a humanidade que mundo será esse e o que podemos esperar? Um mundo com cada vez menor disponibilização e utilização de fontes de energia fóssil (carvão, petróleo, gás)? Um mundo menos dependente da produção de energia através de centrais nucleares? Um mundo, energeticamente falando, a viver preferencialmente das energias renováveis (hídrica, solar, eólica, biomassa, ondas/marés)? Um mundo em que o hidrogénio (a par do eventual recurso a outros gases) será fundamental para a produção de energia? Um mundo com maior eficiência energética, que se preocupa em poupar energia e água? Um mundo com menos plásticos nos oceanos? Um mundo com melhor ordenamento territorial, com mais áreas florestais com espécies autóctones, um mundo mais verde?

Se formos otimistas podemos esperar que haja futuro para a humanidade, de preferência melhor do que os piores cenários conjeturados, assim saibamos aprender com os erros cometidos. Mas para isso é preciso que todos nós sejamos atores empenhados no mesmo propósito, nas nossas vidas pessoais e profissionais, nos diferentes países, cidades, aldeias e territórios. Pensar global e fazer local tem de ser uma máxima e um desígnio, porque o que se fizer localmente tem impacto mundialmente.

No que concerne a Castelo Branco e no que respeita ao território que compõe o município, parece que uma realidade salta à vista – e quase nem é preciso viver ou deslocarmo-nos ao mesmo, basta estar atento às temperaturas que, diariamente, nos são informadas pelo IPMA – é uma terra onde o calor impera – pese embora os frios de inverno – ou seja, é um território intensamente banhado pelo sol!

A exposição solar anual atinge níveis claramente elevados - e não só nos tórridos meses de estio - potenciando assim o aproveitamento daquilo que o sol nos disponibiliza, nomeadamente através de investimentos ligados à energia solar, seja através da massificação da instalação de painéis solares em edifícios (públicos e privados), vivendas, terrenos rurais, instalações industriais e municipais, pavilhões desportivos, piscinas, bibliotecas, escolas, outros espaços desportivos, etc., seja através do incentivo à instalação de indústrias ligadas à conceção e construção dos próprios painéis solares, material em que Portugal e a Europa são tão deficitários e dependentes de outros mercados (designadamente da China).

Castelo Branco tem pois uma localização geográfica privilegiada para fazer integral aproveitamento do sol e da sua energia; caberá a todos, aos particulares em primeira linha, em função da sua vontade e objetivos, mas cabe também, e muito, à autarquia, ao poder local, promover, incentivar e até subsidiar a instalação de painéis solares em todos os edifícios, equipamentos e instalações, públicas e privadas. Como lhe cabe também a procura de parceiros ou investidores que aqui queiram construir espaços industriais ligados a este tipo de energia. Este tipo de investimentos seriam, certamente, uma enorme mais - valia para o território e enriqueceriam a diversidade industrial da cidade e do município.

Mas para além do sol, julgo importante dissertar também, ainda que de forma mais resenhada ou esquissada, sobre as potencialidades que o concelho de Castelo Branco tem em termos de natureza, nomeadamente e mais em particular no que concerne aos seus vários cursos de água e ao subaproveitamento que os mesmos têm tido quanto à visibilidade dos mesmos, mais parecendo que grande parte do seu percurso se encontra propositadamente escondido dos comuns cidadãos.

Creio ser tempo de os “devolver” a todos nós, de os mostrar, de os tornar visíveis, de abrir os seus leitos, as suas margens, os seus percursos. Os rios Ocreza e Ponsul, as ribeiras da Líria e de Caféde, nomeadamente, estão como que ocultos dos olhares e da fruição coletiva; a ribeira da Líria inclusive - decisão de outros tempos de menores consciências ambientais - está encanada no percurso em Alcains, servindo para vazamento de esgotos e águas pluviais.

É pois o período certo para a autarquia albicastrense definir, planear e executar planos de aproveitamento das margens dos cursos de água que atravessam o território municipal, através da implantação e desenvolvimento de caminhos pedonais onde se possam apreciar os leitos dos rios e ribeiras, e enquadrar estes caminhos, eventualmente e sempre que possível, em parques urbanos verdes.

Aliás, numa cidade com as características de Castelo Branco, os parques urbanos verdes, sejam no interior da malha urbana, sejam ao seu redor, são fundamentais para permitir que existam temperaturas mais amenas, sobretudo quando se tem em conta que no futuro os verões serão, provavelmente, mais quentes e prolongados. Os parques que existem já hoje devem pois ser replicados e aumentar significativamente o seu número. Há que “semear hoje para colher amanhã”.

A finalizar esta crónica, e sob o pressuposto de que os peritos climáticos têm razão e que teremos em cada ano vindouro verões mais quentes, mais ondas de calor e sobretudo mais duradouras e períodos de estio mais prolongados, parece-me que mais que se justifica que o período de funcionamento das piscinas municipais no concelho, designadamente a piscina praia de Castelo Branco, se estenda por mais tempo, pelo menos por 4 meses integrais, ou seja, entre 1 de junho e 30 de setembro.

 

Sociólogo

COMENTÁRIOS

JMarques
à muito tempo atrás
Mas os políticos acham que as alterações climáticas, anunciadas pelos cientistas são lirismo e poesia, pelo menos a prática quotidiana das suas decisões, assim o demonstram.