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Leitores: Penamacor. Resignação é sinónimo de desistência

Pedro Folgado - 28/11/2023 - 11:33

Talvez seja hora de bater o pé pela extensão do regadio à zona sul, pela construção de uma barragem na ribeira de Ceife ou das Taliscas, recuperar o tema da ligação à A23, reivindicar o reforço e a presença permanente da Força Aérea nas instalações situadas no concelho, ou outro investimento estrutural que possa alavancar a economia local.

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Parece ser evidente que uma das condições primordiais para assegurar o desenvolvimento regional e a coesão territorial são as acessibilidades, materializadas pela existência de vias de comunicação eficazes e abrangentes que permitam a mobilidade de pessoas e mercadorias.

Partindo deste pressuposto, seria expectável que todos os responsáveis regionais e locais, mormente os do Interior, pugnassem por garantir as melhores condições possíveis em matéria de infraestruturas rodoferroviárias.

Contudo, há municípios em que isto aparenta não ser uma preocupação, que parecem ser fadados para viver em irredutível isolamento, fechados ao mundo, e prosseguem, impávida e serenamente, alheados do progresso e do acesso a melhores condições.

Se em algumas circunstâncias isso ocorre por força de condicionantes externas, outras há em que se deve a mera inação e incapacidade de fazer valer os seus legítimos direitos e aspirações. Ainda que em determinadas (poucas) situações o isolamento possa ser uma vantagem, a verdade é que na esmagadora maioria dos casos isso traduz-se em sérios prejuízos para as pessoas, empresas e instituições.

Infelizmente, Penamacor sofre deste mal desde há mais de um século.

Já aquando da construção da linha da Beira Baixa, no final do século 19, a vila de Penamacor foi preterida na definição do percurso tendo ficado apenas com o nome associado ao apeadeiro da Fatela, em jeito de prémio de consolação.

Não surpreendentemente, um século depois, a passagem da A23 por Penamacor nem sequer foi tema de discussão, restando apenas as poucas placas sinaléticas a indicar o caminho de saída. Gerou-se, no entanto, a esperança de ter uma ligação condigna à referida autoestrada, com anúncios formais e tudo, mas nem isso se concretizou. Este insucesso acabou também por prejudicar Fundão e Covilhã que, por esta via, poderiam beneficiar de um acesso mais rápido, direto e próximo à fronteira espanhola.

Mais ou menos por essa altura, começou também a falar-se no já famoso IC31, ligando a A23 à fronteira nas Termas de Monfortinho, e novamente se alimentou a esperança de finalmente Penamacor ter uma via rodoviária em condições (para além da provecta N233).

Mas eis que, quando finalmente se conhece o projeto (aparentemente) definitivo desta via, surpresa das surpresas, Penamacor fica novamente fora do traçado, resignando-se à proximidade com Proença-A-Velha. É certo que poderá dizer-se que a zona sul do Concelho será finalmente beneficiada com qualquer coisa graças à proximidade geográfica, mas isto não é suficiente.

O concelho de Penamacor, as suas gentes e as diversas entidades públicas e privadas não podem resignar-se a este fado. Se porventura já não se for a tempo de alterar ou adaptar o traçado definido, então terão de ser encontradas contrapartidas que atenuem o impacto de mais esta decisão prejudicial para Penamacor.

Talvez seja hora de bater o pé pela extensão do regadio à zona sul, pela construção de uma barragem na ribeira de Ceife ou das Taliscas, recuperar o tema da ligação à A23, reivindicar o reforço e a presença permanente da Força Aérea nas instalações situadas no concelho, ou outro investimento estrutural que possa alavancar a economia local.

O município tem uma função crucial neste desafio. Não basta receber de braços abertos os membros o governo que esporadicamente passam em visita, é preciso aproveitar essas raras oportunidades para fazer valer os pontos de vista locais. Para além disso, compete-lhe mobilizar a sociedade civil para a prossecução desses objetivos.

De facto, as diversas entidades e instituições locais, podem e devem contribuir significativamente de diversas formas: colocando os temas nos diversos fóruns locais, regionais e até nacionais onde têm assento; promovendo a sensibilização da população; interagindo com entidades e indivíduos chave que possam influenciar positivamente os processos.

O que não pode seguramente suceder é ficar-se de braços cruzados, conformados com mais uma inevitabilidade. Se ao município cabe a responsabilidade de mobilizar, à sociedade civil cabe o papel de reivindicar e pugnar para que as suas aspirações sejam prosseguidas e realizadas.

A Democracia não se esgota no momento do voto e uma sociedade só é verdadeiramente democrática quando as pessoas e as instituições se envolvem nos processos e decisões que as afetam.

Todos somos poucos, mas juntos podemos fazer a diferença.

 

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