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Liderar para servir(se)

Paula Custódio Reis - 20/05/2021 - 8:08

Tive a sorte de ter na família muitos contadores de histórias. Sentados à volta de uma mesa ou de uma lareira lá se desfiavam as palavras que todos parávamos para ouvir. Todas tinham alguma coisa para nos ensinar e eram contadas mais do que uma vez, o que me permitiu repeti-las aos meus filhos.
Hoje também quero contar a uma história a que fui assistindo ao longo das últimas décadas, aqui pela nossa região:
«Era uma vez uma casa agrícola. Era uma casa rica de trabalho, de pessoas, de esforço e por isso passou a ter também algum desafogo de dinheiro. Para isso contribui o esforço do agricultor que, quando comprou aquelas terras, percebeu que era preciso abrir minas e poços, adquirir alfaias e construir abrigos para os animais.
À medida que a família crescia, crescia também o número de trabalhadores. Os filhos mais novos eram pastores, os mais velhos acompanhavam o pai nas idas aos mercados vender os animais.
Para ter erva fresca e abundante todo o ano, o agricultor comprou terrenos na Serra, para onde eram levados os animais no Verão. O trabalho era sério e dava resultado. Muitas vezes eram os compradores que vinham à quinta comprar animais, porque esta ganhou fama.
Um dia, já cansado e confiante na herança que construíra, o agricultor chamou o filho mais velho: «Chegou a altura de descansar mais. Estou contente porque vos entrego uma casa melhor do que a que encontrei. Reúne os teus irmãos porque haveis agora de tomar conta do negócio. Todos juntos sereis capazes de vos entender, mas se precisarem de mim, eu andarei por aqui.»
Para fim desta história, aponto-vos dois caminhos.
No primeiro o irmão mais velho confiou em si, nos irmãos e na herança do pai (até porque quem não confia não é de confiar) e, juntos, deram continuidade ao que de bom já tinham, preservando o bom nome que lhes dava bom rendimento a todos.
No segundo caminho, a vida deste irmão foi assombrada pelo medo. Medo de não ser capaz, medo da inveja de algum irmão, medo que o roubassem, medo que o enganassem. Como o medo não é bom conselheiro, decidiu que era preciso afastar todos os que eram da casa e trazer gente nova. Gente que só a ele reconhecesse como chefe. Despediu os trabalhadores, arranjou maneira de ir afastando os irmãos. Se era jorna o que tinha prometido aos novos trabalhadores, essa era a sua única preocupação. Tudo o que implicava um esforço feito com gosto para o bem de todos deixou de ser feito. O gado deixou de ser bem tratado e passaram a ter um ar mais abatido. Foi ideia do novo feitor esconder a magreza dos animais com truques: as cangas passariam a ser enfeitadas com flores e, no caminho para o mercado, punham pedras de sal na língua dos bichos que assim iam inchando com a água a mais que bebiam.»
Em todos os tempos, em qualquer área da vida, se pode optar por um destes dois caminhos: dividir para reinar ou construir em conjunto. Tenho para mim que a escolha de um deles em tudo depende da liderança que for exercida.    Vitória, vitória…

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