Este site utiliza cookies. Ao continuar a navegar no nosso website está a consentir a utilização de cookies. Saiba mais

Música: Tirem o chapéu preto. Morreu Arlindo de Carvalho

José Furtado - 27/11/2016 - 15:01

Arlindo de Carvalho nasceu na Soalheira e amava Castelo Branco “a cidade do meu coração e a quem devo grande parte do meu sucesso".

Partilhar:

Arlindo de Carvalho deixa um vasto repertório

Ó Castelo Branco, Castelo Branco. Assim começa a canção que se tornou num hino à cidade. O seu autor, Arlindo de Carvalho, faleceu no sábado aos 86 anos, longe da Beira Baixa que tanto amava e que colocou nas vozes de alguns dos maiores nomes da música portuguesa desde a década de 1950. Amália Rodrigues, Luís Piçarra, Tristão da Silva, António Mourão, Maria de Fátima Bravo, Madalena Iglésias, Lenita Gentil ou Alexandra cantaram os seus temas, que também chegaram a uma nova geração através de Mísia, Cristina Branco, Mafalda Arnauth, Maria Ana Bobonne ou Rodrigo Félix.

Arlindo Duarte de Carvalho nasceu na Soalheira a 27 de abril de 1930. Nos campos da terra natal e também de Idanha-a-Nova foi absorvendo logo na juventude as manifestações musicais ligadas ao trabalho rural. Começou na música como autodidata, aprendeu solfejo com o barbeiro albicastrense José Bernardo e a partir do final de década de 1940 iniciou a composição, batendo à porta da Emissora Nacional na ânsia de encontrar vozes. Através de Luís Piçarra – a voz do hino do Benfica – conheceu Gina Maria, que foi a primeira a cantar na rádio aqueles que se tornariam os seus dois maiores sucessos: “Chapéu preto” e “Saudades da Beira”, que para muitos é o “Castelo Branco”. Esta era “a cidade do meu coração e a quem devo grande parte do meu sucesso", confessou em 2011 numa entrevista ao Reconquista. Castelo Branco retribuiu o amor cantando o tema, que continua a ser interpretado por vários grupos. Na Orquestra Típica Albicastrense não há concerto que não termine com ele.

“É um nome que está ligado à história da orquestra, pelas composições que nos deu para nós podermos trabalhar. A melhor homenagem que lhe podemos fazer é tocar os seus temas e isso vai continuar a acontecer”, diz Carlos Salvado, maestro e presidente da direção da OTA.

O compositor cedeu muita da sua obra para ser adaptada pela orquestra, que no último CD, lançado em 2013, incluiu um tributo a Arlindo de Carvalho. O músico morreu mas não a sua obra, que a OTA quer continuar a divulgar. “Ele deixou um espólio muito grande e tem coisas belíssimas”, diz Carlos Salvado.

A obra de Arlindo de Carvalho é uma viagem pela Beira Baixa: “Saudades da Beira”, “Soalheira linda vila”, “Penamacor”, “Retaxo”, “Comboio da Beira Baixa” ou “Oledo” são alguns dos exemplos.

Professor primário de formação, chegou a dar aulas no distrito mas em 1955 fixou-se em Lisboa, onde conheceu Amália Rodrigues que deu voz a muitos dos seus temas, como “Hortelã Mourisca”. Aprofundou a formação musical e exilou-se a partir de 1965 por discordar da ditadura. Passou por vários países europeus mas foi em França que ganhou projeção, atuando na televisão. Também lá nasceu como cantor, fazendo a sua estreia em 1966 na Salle Wagram, em Paris. Veio o 25 de Abril e já em Portugal cantou em comícios e manifestações do Partido Socialista. A sua relação com a política passou ainda pela Suécia, onde participou nas campanhas eleitorais que levaram Olof Palme ao poder. Inglês, japonês, sueco ou húngaro foram algumas das línguas em que as suas canções foram interpretadas. O reconhecimento do estrangeiro veio de diversos lados, como a televisão japonesa que em 2008 esteve na sua terra natal para gravar um programa, um momento que o Reconquista acompanhou.

Nos últimos anos continuava a atuar na capital, no restaurante “Guitarras de Lisboa”. Foi lá que terá cantado em público pela última vez, dando voz ao tema “Comboio da Beira Baixa”. Regressa agora a casa, com o funeral marcado para esta quarta-feira. No Fundão há luto municipal até dia 2.

 

 

COMENTÁRIOS