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O poder da retórica

Luís Beato Nunes - 30/11/2017 - 9:45

Esta semana revi o filme “The Great Debaters” (2007) de Denzel Washington, inspirado numa história verídica sobre o grupo de debate da Wiley College, no Texas, EUA, que, em 1935, desafiou e venceu a Universidade de Harvard numa competição de retórica.
Em 1935, a Wiley College era uma pequena instituição de ensino superior, cujo objectivo era a emancipação da comunidade afro-americana nos EUA através da educação superior, formando técnicos licenciados, mas, sobretudo, cidadãos conscientes e críticos.
A retórica, o debate e a argumentação são actividades privilegiadas pelo ensino anglo-saxónico, permitindo aos alunos, e futuros profissionais, aprimorar a sua capacidade de raciocínio e de pesquisa de informação de modo a rebater as ideias dos oponentes.
Citações, estatísticas, enumeração de factos, ou tentar a empatia da audiência com um discurso com exemplos concretos e próximos, são diferentes técnicas que podem ser usadas em debate, onde o objectivo é desconstruir ou provar que a premissa do oponente está errada.
A retórica não é apenas um exercício teórico, ou um jogo de palavras, sendo fundamental em várias contextos profissionais, seja para provar à chefia que somos uma mais-valia para a equipa, seja para agarrar uma nova oportunidade numa entrevista de emprego. 
Publicitários, comerciais ou juristas fazem da retórica a sua principal ferramenta de trabalho, tentando desconstruir a “verdade” dos outros ou afirmar a sua premissa como a única credível.
Contudo, há quem fique tão seduzido por esta ferramenta que se esqueça que esta deve ser apenas um meio para alcançar um fim, e é este último que deve ser submetido à nossa avaliação moral e consciente e não a beleza das nossas palavras ou solidez dos nossos argumentos.
Tal como a retórica, qualquer ferramenta de trabalho não é boa nem má em si mesma. Essa avaliação dependerá do fim para a qual cada ferramenta é usada, uma vez que as “coisas” não podem ser boas nem más descontextualizadas da prática humana.  
Aqueles que usam a retórica no seu quotidiano profissional, devem ser conscientes de que os seus argumentos serão escutados ou lidos por uma audiência que poderá não estar tão bem informada sobre o assunto em debate.
Perante tais circunstâncias, a mentira e a omissão são truques que o arguente se sentirá tentado a usar, mas que não o fará se for consciente e compreender que o debate não serve para manipular a audiência, mas para a esclarecer.
Quando se trata da mentira ou da omissão, a consciência do arguente deverá ser o seu juiz, impedindo que a beleza das palavras e o narcisismo retórico se sobreponham ao civismo, respeitando tanto a sabedoria, como a ignorância da audiência, sendo que esta última, a existir, deve ser esclarecida e não ridicularizada.   
Em 1935, a elite branca e culta dos EUA ignorava as injustiças que se cometiam contra a minoria afro-americana daquele que se haveria de tornar no país mais rico do mundo, apesar de ainda hoje se manterem muitos dos preconceitos contra as minorias que aí se refugiam, procurando apenas partilhar parte dessa riqueza.
luis.beato.nunes@gmail.com

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