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Leitores: A importância das emoções e dos sentimentos

António José Alves Oliveira - 24/03/2022 - 9:46

A representação que os professores têm de si próprios engloba aspetos relacionados com as suas funções, as conceções sobre o ensino e a aprendizagem dos seus alunos, influenciando, deste modo, as suas práticas pedagógicas.

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A representação que os professores têm de si próprios engloba aspetos  relacionados com as suas funções, as conceções  sobre o ensino e a aprendizagem dos seus alunos, influenciando, deste modo,  as suas práticas pedagógicas. Neste sentido, as emoções e os sentimentos surgem com fatores determinantes no desenvolvimento da identidade dos professores, sobretudo, na forma como lidam com os conflitos surgidos nas relações estabelecidas com os alunos, colegas de profissão, com as famílias, a comunidade local, a direção executiva e com o próprio Ministério da Educação, através da incorporação das diretrizes emanadas da legislação e da mudança constante das políticas educativas. Tendo a docência uma componente de afetividade esta é constituída por momentos marcantes na vida dos indivíduos, provenientes de contextos internos ou externos, que podem suscitar diferentes sensações, emoções, sentimentos e paixões, aplicáveis ao ambiente educativo (Souza, Petroni & Andrada, 2013).
Quando os professores revelam determinadas emoções e suprimem outras, criam uma dissonância emocional ou um conflito entre o que estão realmente a sentir e as regras que se espera que sigam na relação educativa, ignorando os seus verdadeiros sentimentos, ou seja, o que pode ser chamada de “atuação de superfície”. Por outro lado, a “atuação profunda” refere-se à tentativa dos professores sentirem, regularem  e expressarem  emoções genuínas. As identidades dos professores envolvem tanto as formas como os professores se veem a si próprios, como as formas pelas quais se  mostram aos seus alunos (Schutz & Lee, 2014). 
Os bons professores não são apenas profissionais competentes em termos científicos e pedagógicos, são “seres” carregados de emoções positivas, que se relacionam com os seus alunos numa dinâmica de entusiasmo, criatividade e desafio constantes. Mas quando o trabalho dos professores é reestruturado sem ter em conta o seu contexto de trabalho, torna os seus compromissos com o ensino e a relação com os alunos mais difíceis, incutindo-lhes sentimentos de culpa e de desgaste emocional. Os responsáveis pela Educação tendem a considerar a importância das emoções no trabalho docente como um sedativo e não como estimulante através de discursos onde se repetem os termos colaboração, trabalho de equipa, gestão do stresse e bem-estar, para sustentar reformas educativas que afetam o seu conhecimento, a capacidade de resolução de problemas e danificar o grande investimento emocional que depositam nas interações com os outros professores, pais e alunos (Hargreaves, 1998). 
Relativamente às dimensões pedagógicas das emoções e sentimentos, a emocionalidade existente no ensino é experimentada de diferentes formas pelos professores e dependem de quem é a pessoa-professor, dos contextos onde exercem a docência, mas também das expetativas e das conceções que a sociedade tem sobre a Educação. Na relação com os alunos, os professores podem vivenciar emoções positivas, como a alegria e o entusiasmo ou negativas, como o medo, o desalento e a alienação da sua missão educativa, emoções claramente relacionadas com o processo de ensino, da aprendizagem e do (in) sucesso dos alunos. Neste processo dinâmico e longitudinal as emoções dos professores contrastam com a relação de poder que é exercida  na sala de aula, patente na perceção que as novas gerações de alunos têm sobre os seus direitos e as formas de contestar a autoridade dos docentes (Rocha, 2018). 
Apesar das contrariedades causadas por uma carreira baseada numa lógica economicista imposta pela tutela da Educação, pelos problemas de comportamento dos alunos e pela ausência de reconhecimento da sociedade, os professores reconhecem em si mesmos o valor do seu trabalho no desenvolvimento académico, pessoal e social dos seus alunos, assumido numa perspetiva de ética de responsabilidade e de cuidado, facto que contribui para o seu equilíbrio emocional, melhoria da sua autoestima e confiança enquanto profissionais (Freire, Bahia, Estrela & Amaral, 2012). 
Ao não serem incluídos na construção  dos currículos escolares, nas abordagens educacionais, nos métodos e técnicas a implementar, sempre que ocorre uma  reforma educacional, os professores tendem a sentir emoções negativas, sentimentos de impotência ou a falta de controlo  perante as relações de poder que se esbatem nos contextos educacionais. Conhecer o processo de formação das identidades dos professores permite perceber o que estes  levam consigo para a sala de aula,  como a prática pedagógica é influenciada pelas suas identidades e possibilita aos formadores de professores atuar junto dos professores em situação de formação inicial, de modo a prepará-los para os verdadeiros desafios que irão encontrar na profissão docente.  
Perante estas razões, as emoções devem ser identificadas e compreendidas, já que revelam o modo como os professores idealizam os seus objetivos pessoais e profissionais, a forma como atuam e reagem no quotidiano escolar, evidenciando sentimentos que demonstram quem são e o que querem. A formação da identidade docente comporta uma inegável componente de sensibilidade, pois deste modo  conseguem avaliar os sentimentos que os levam a ter certezas, a sentir e a  reconhecerem-se como professores (Morais & Macedo, 2021).

António José Alves Oliveira

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