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Leitores: Novo livro de Paulo Jorge Brito e Abreu. Da Poesia à Profecia

Paulo Samuel - 26/05/2022 - 9:45

De forma singela, perante uma escassa mas atenta audiência, foi apresentado no dia 12 de maio, na Casa do Arco do Bispo, um livrinho (só no n.º de páginas) intitulado António Salvado: Da Poesia, ou Teurgia, como a Taumaturgia, do Ensaísta, Poeta e Recitador, Paulo Jorge Brito e Abreu.

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De forma singela, perante uma escassa mas atenta audiência, foi apresentado no dia 12 de maio, na Casa do Arco do Bispo, um livrinho (só no n.º de páginas) intitulado António Salvado: Da Poesia, ou Teurgia, como a Taumaturgia, do Ensaísta, Poeta e Recitador, Paulo Jorge Brito e Abreu. 
O breve perfil curricular do autor foi lido pela Professora, também Poeta e Ensaísta, Maria de Lurdes Gouveia Barata. No decurso da sessão, houve lugar a recitação de poemas pelo autor, próprios e alheios (um deles do poeta João Belo, natural de Cebolais de Cima, outro do malogrado Ângelo de Lima) e arriscou-se breve diálogo com um ou outro dos presentes. António Salvado, que formou “mesa” com Paulo Jorge Brito e Abreu, evocou factos da sua vida literária, como a Tertúlia do Café Gelo e a criação das Folhas de Poesia, revista que marcou época nos meios cultos lisboetas, a cuja organização e direcção deu o seu contributo (a par de Herberto Helder).  
Praticamente desconhecido dos leitores albicastrenses, autor e livro acima apresentados justificam esta nota, que não é de recensão, servindo tão-só para apontar a pertinência de uma leitura da obra de António Salvado, com a qual temos pontos de convergência e que nos parece constituir uma das vertentes mais significativas do ofício poético deste prestigiado mestre da palavra. Importa esclarecer que o texto base (ora revisto e ampliado) impresso nessas 30 páginas, retoma o essencial do que Paulo Jorge Brito e Abreu apresentou em versão oral aquando do Colóquio “…o caminho se faz por entre a vida”, realizado na Biblioteca Municipal de Castelo Branco, em 2014, pelo qual se pretendeu levar mais longe e mais fundo o estudo da obra salvadina, resultando no volume de actas daí decorrente, que, todavia, pouco lastro deixou nos que encaram a Cultura e as Letras como actividade performativa e pouco como fruição do saber e marca do Espírito. 
Pecando apenas, a nosso ver, por um diminuto tipo de letra e escasso entrelinhamento, que dificultam a leitura, este livro vem complementado com desenhos a cores do Pintor João Repolho e abre com citações de Luís de Camões, do Livro do Primeiro Isaías e de Immanuel Kant, nada arbitrárias, antes propiciadoras à compreensão do nível em que se situa este ensaio. Páginas inteiras com as bandeiras, a cores, de Espanha, Brasil e Casa Real Portuguesa, servem a denotar afeições do autor, que explicita em derradeiro post-scriptum a criação recente da Associação dos “Amigos da Casa de António Salvado” e o legado que este poeta pretende doar à sua Cidade natal. Um poema final, constitui tributo a António Salvado, e resume em verso o que Paulo Brito e Abreu deixou teorizado nas páginas precedentes. Em minguada sinopse, a leitura hermenêutica do autor infere que António Salvado “está ligado ao espiritualismo, à renúncia e abnegação, à Musa, dessarte, e à Música do carme. Aqui temos, sobremaneira, o Poeta e o Vate como Vidente, aquele que indica, indicia, ou nomeia o sagrado.” Desta feita, “o Poeta, em Salvado, é Sacerdote, e dele exige a profecia, o sacrário, sacramento, o sacrifício, o Pão da Poesia, partido em pequenino”. (p. 29). Do “Limiar”, em que se contextualiza a arte poética salvadina no âmago de uma Ontologia, ou “Teologia dos poéticos valores” (p. 15), entra-se “No coração do santuário”, onde se evoca José Marinho, Aristóteles e Heidegger, para se afirmar que “se o saber filosófico, se a poética Palavra, é livre em sua essência, só a Filosofia é «ciência da verdade» em estrito sentido”. Aceita Paulo Jorge Brito e Abreu que o ternário Arte, Religião, Filosofia são, como problematizou Hegel, “expressões, ou lugares, do Espírito Absoluto”, O mesmo que se patenteia em muito verso de António Salvado. Estaremos, pois, defronte de uma poesia cujo cerne é teológico e teleológico, servindo-se da Palavra como instrumento de “comunicação”, melhor ainda, de “comunhão”, que sobe do grau literário aos degraus de um Criacionismo a modos leonardino, em que ao Homem cumpre cooperar na redentora obra que visa livrá-lo de um estado existente em mundo feito para o tornar essente num Universo a fazer… Recôndito, interior à Luz, António Salvado serve-se da Palavra como Certificado de Presença para testemunhar a urgência do ver (no sentido de Almada Negreiros), que vai além do olhar, sabendo que nas Coisas Marinhas e Terrenas brotam os sinais, as Largas Vias da presença do Absoluto, Se na Alma Houver o dom de “simpatia” amorosa que permite ao Homem aceder à Verdade do Amor – aí a Profecia.
É neste escopo, com recurso a outras áreas do saber, que incluem Numerologia, Hermetismo e Cabala, que se enxerta o estudo de Paulo Jorge Brito e Abreu, que ficará, com certeza, não obstante a sua exiguidade, entre os mais densos e audazes contributos para uma interpretação integral e prospectiva da obra poética de António Salvado.   

Paulo Samuel

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