Nos idos tempos de 1982, um escritor colombiano chamado Gabriel Garcia Márquez ganha o Prémio Nobel da Literatura, fruto do sucesso da escrita diferenciadora de um livro intitulado “Crónicas de uma Morte Anunciada”. Este livro retrata a história de Santiago Nasar, condenado à morte por, supostamente, ter repudiado a amante, irmã dos gémeos Vicario que decidem assassiná-lo, contando os seus planos a todas as pessoas que encontravam no caminho. Ao fim de umas horas, toda a cidade sabia que Santiago Nasar ia ser assassinado, mas, por um conjunto de razões, ninguém o informou sobre o seu triste destino.
Fazendo um paralelismo, assim parece Portugal e os Portugueses. Todos sabemos que estamos a caminho de uma desgraça enquanto povo, mas todos assobiamos para o lado, quando o assunto é resolver os problemas constantes do dia-a-dia.
Mas antes, permitam-me homenagear, neste início de ano letivo, todos os professores e alunos. Após dois anos muito complicados de adaptação a novos métodos, resultantes do impacto que a Covid-19 teve na nossa sociedade, este é o ano zero de retoma à normalidade. Deixo este agradecimento e homenagem, porque tive a oportunidade de viajar diariamente com um conjunto de profissionais de excelência, moradores no Distrito de Castelo Branco, colocados no Distrito de Portalegre, sempre disponíveis para fazer cerca de 250 (duzentos e cinquenta) quilómetros diários, apenas e só para cumprirem o seu sonho de ensinar e proporcionar aos seus alunos a oportunidade de terem acesso ao conhecimento. Numa altura de incertezas na área de educação, só podemos saudar a quem paga para trabalhar em condições degradantes, numa profissão mal paga, longe dos seus familiares, mas contribuindo para o desenvolvimento da sociedade de futuro.
Voltemos aos exemplos do devaneio em que Portugal está metido, neste caso, dois exemplos concretos. Começo por comparar os preços dos combustíveis para desmistificar a parangona diária ouvida nos meios de comunicação social. Sempre que o PSD apresenta uma alternativa, a esquerda socialista lança o bicho papão do ultraliberalismo da Troika, lembrando-me a estória daquele menino socialista malcomportado que furta a mesada a todos os colegas da escola e foge, deixando as contas para o irmão social-democrata pagar. O irmão social-democrata para pagar tem de gerir a sua vida, negociando com os colegas o pagamento da mesada furtada pelo irmão socialista (que nunca a iria pagar). Quando as contas começam a ficar saldadas, o irmão socialista aparece, de ar triunfante, a zombar do irmão social-democrata que, na sua ausência, andava sempre triste e não conseguia criar bom ambiente. No fim, existem eleições para delegado de turma e, com maioria absoluta, ganha o irmão socialista, porque é um indivíduo “porreiro, pá” e já ninguém se lembra dos furtos. A realidade mostra-nos que, em 2013, no pico da intervenção da Troika, o preço máximo do barril de Brent (valor de referência em janeiro de 2013) estava nos 115 dólares o barril e o preço médio do gasóleo rodoviário rondava o 1,39€ o litro. Dando o exemplo de 2021, evitando a desculpa da guerra na Ucrânia, usada pelos governantes socialistas, vou utilizar como referência o valor médio do barril de Brent, situado nos 78 dólares o barril, sendo o preço médio do gasóleo rodoviário de 1,45€ o litro (dados Pordata). A comparação é ilustradora do embuste em que vivemos. Supostamente, no auge do ultraliberalismo, o bicho papão de direita conseguia, apesar do preço do barril ser superior em 37 dólares, apresentar ao consumidor, ou seja, cada português, um valor inferior de 6 cêntimos por litro no gasóleo rodoviário. Só não vê quem não quer. Como diria Lincoln, “Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos, todo o tempo.”
Falemos do choque tido acerca da proposta apresentada por António Costa, de entregar aos pensionistas, um bónus de 350 euros em 2022, hipotecando as pensões de 2023 (em 375 euros) e 2024 (em 391 euros). Supostamente, as propostas de combate à inflação, apresentadas como um plano de resposta ao aumento de preços, afinal, não passam de um plano de austeridade devidamente encapotado.
É ou não é, a crónica de um embuste anunciado? Gabriel Garcia Márquez, se fosse vivo, ia ficar orgulhoso. Afinal, não é todos os dias que podemos ter um Nobel do engano em Portugal.
Presidente do PSD Distrital de Castelo Branco
luis.santos@psdcastelobranco.pt