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O Natal possível: Vivamos o essencial

Florentino Beirão - 23/12/2020 - 9:27

O palco adequado para festejarmos este ano a quadra natalícia, envolvidos que estamos, numa cansativa e mortífera pandemia, já se encontra delineado pelo Governo e pelos responsáveis da saúde pública. Sabemos que, a partir de agora, o Natal deste ano não pode ser celebrado em família, como nos anos anteriores, em total liberdade. O ambiente perigoso em que hoje nos encontramos impõe-nos algumas restrições sociais, a fim de evitarmos o alastrar do covid-19, o malfadado vírus que tanto tem limitado as nossas liberdades cívicas, ao longo deste penoso ano de 2020, já com mais de 6.000 de mortos no nosso país. Noutras latitudes, ainda em maior número tem sido a mortalidade e a legião dos infetados. Dos países mais pobres aos mais ricos, nenhum tem escapado a tão cruel flagelo. Embora uns mais do que outros, consoante as estratégias adotadas pelos seus líderes. Não sendo este um Natal normal, não quer dizer que as festas natalícias tenham sido canceladas. Por isso, as reuniões familiares vão ser mais comedidas. Festejar sim, mas com as devidas restrições e as cautelas devidas. Já basta as mortes que tem havido. Enquanto não chegar à maior parte da população a prometida vacina, é nosso dever continuarmos a manter os cuidados recomendados pelas autoridades. Tê-los em conta e pratica-los nesta quadra natalícia, será, certamente, a melhor prenda que poderemos oferecer a quem mais amamos. Se tudo correr bem, como se espera, para o próximo ano, com a maior parte da população já vacinada, poderemos festejar e expandir os nossos afetos na quadra natalícia.  
No entanto, este ano, apesar do medo e com as restrições aconselhadas, a maioria dos infantários, timidamente, lá foram organizando as suas festas natalícias com as crianças e pais. Também nas ruas das aldeias, nas avenidas das cidades e nas grandes superfícies, semeadas de luzes cintilantes e mágicas, envolvendo os troncos das árvores e das montras, o ar já é de Festa.
Simultaneamente, as caixas do correio vão ficando entupidas com a abundância de publicidade, apelando a um Natal consumista.
Por outro lado, o tradicional Madeiro do Natal, uma longa tradição das gentes das Beiras, a crepitar junto às igrejas, nestas geladas noites, vai ter de ficar silencioso, para se evitar os ajuntamentos sociais, próprios desta tradição que remonta à romanização. 
Contudo, apesar da pandemia, as prendas no sapatinho, com uma listagem sem fim e sempre incompleta, para que a ninguém falte a sua lembrança, encherá de alegria as crianças e consolará os mais idosos. Na verdade, todos guardamos em nós algo de eternos meninos.
Por outro lado, nesta quadra do ano, misturada com as eleições presidenciais, apesar das restrições sociais, não faltarão certamente nas televisões as habituais mensagens das autoridades, repletas de votos formais de melhores dias.
Infelizmente, a festa celebrada em honra do Menino Jesus, nascido num pobre curral entre animais e visitado por humildes pastores, tem-se estado a transformar, cada vez mais, numa parada stressante e consumista. Montada pela publicidade e, meticulosamente organizada pelo comércio global, tenta sugar-nos alguns milhões, por vezes em bugigangas, tantas vezes desnecessárias e inúteis.
Claro que não somos contra a partilha generosa e simbólica das prendas entre as pessoas de quem se gosta – um símbolo da generosa oferta de Deus à humanidade - dado que elas nos ajudam a suavizar a vida que tantas vezes levamos, ao longo dos nossos atormentados dias. A troca de prendas, por outro lado, também pode ser útil para aprofundarmos o sentido de pertença a uma família e para alimentarmos o imaginário das crianças. Do mesmo modo, elas podem demonstrar o nosso bem- haja às pessoas que, ao longo do ano, mal tivemos tempo para lhes dedicar a atenção que mereciam, devido à nossa galopante labuta diária.
Para que esta quadra festiva não se vire contra nós, mergulhados num frenesim sem sentido, apenas sujeito às pressões sociais, pela imitação ou pelo consumismo puro e duro, façamos um esforço para escolhermos, lucidamente, o que mais importa celebrar, redefinindo prioridades, como nos ensina o Papa Francisco. Este ano, limitados por uma cruel pandemia, um Natal de risco, tentemos refletir sobre o essencial desta Festa: o amor, a partilha fraterna e solidária e a paz. Se assim fizermos acontecer, o espírito natalício é bem capaz de ter ganho um novo fôlego. Bom Natal para todos.

florentinobeirão@hotmail.com

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