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Leitores: NFTs, o novo paradigma no nosso quotidiano

Manuel Veloso - 20/10/2022 - 9:48

Para a maioria das pessoas falar de NFTs é sinónimo de imagens de exóticos macacos e pixelados bonecos, transacionadas a preços estonteantes por conhecidas figuras públicas, num mercado onde a irracionalidade é o racional.

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Para a maioria das pessoas falar de NFTs é sinónimo de imagens de exóticos macacos e pixelados bonecos, transacionadas a preços estonteantes por conhecidas figuras públicas, num mercado onde a irracionalidade é o racional. Estórias que dão um bom livro sobre a vaidade e a ganância do bicho homem. Emoções à parte, o facto é que em 2021, de acordo com os dados  da Nonfungible.com, o mercado de NFTs movimentou 17,6 bilhões de dólares americanos. É muito dinheiro e seu impacto no mercado de arte digital global foi enorme, mudando para sempre a relação entre o artista e o público. 
Mas que tecnologia disruptiva é esta que alterou as regras de jogo do mercado de arte? NFT é o acrónimo de “Non Fungible Token”, que em português se pode traduzir por activo digital não-fungível, cada um com o seus metadados, e que está registado numa cadeia de dados Blockchain –o mesmo sistema utilizado por outros criptoactivos-, tendo como objetivo atestar a autenticidade de um determinado conteúdo e atribuir propriedade ao seu detentor. Em resumo: é um certificado de titularidade de um bem. 
O impacto na arte digital é sem dúvida o mais conhecido, eu próprio lancei uma colecção de fotografias de lugares da Beira Baixa na plataforma OpenSea com o título “Beira Baixa, Portugal, moments”, mas, a verdade, é que a utilização dos NFTs vai bem para além deste nicho de mercado e está cada vez mais presente no nosso quotidiano.
Ao permitirem o registo de propriedade de um bem, tangível ou não, estes activos digitais estão a substituir o tradicional processo de registo de direitos de copyright, marca registada e até de patentes. A indústria do luxo foi uma das primeiras a perceber esta potencialidade. Gucci, Louis Vuitton, a Prada, Dolce & Gabbana, Tommy Hilfiger, Paco Rabanne, DKNY, só para referir algumas, estão entre as marcas que já utilizam NFTs para atestar a genuinidade de um artigo. Curioso ou nem tanto, embora ainda no início da aplicação desta tecnologia, já há processos a correr em Tribunal de disputa direitos de propriedade intelectual. Humano, demasiado humano. 
No desporto a adopção de NFTs tem tido grande, com destaque para a Formula1, Campeonato NBA (National Basketball Association) e Futebol. As vendas de imagens de jogadores, fotografias de vídeos de lances e jogadas são uma mercado em franco crescimento, com cada vez mais clubes a aderirem a esta nova vaga digital. A pensar no futuro que se está a desenhar no mundo virtual, várias marcar desportivas, entre elas a Nike e Adidas, emitiram activos não-fungíveis dos seus equipamentos numa clara aposta no ecossistema  Metaverso.
O impacto dos NFTs também se está a sentir na indústria da Música, permitindo que o contacto entre o músico e o seu público passe ao lado das produtoras musicais, pondo em causa a continuação o seu monopólio, e deste modo, dar maior liberdade aos criadores.
A possibilidade de um token poder representar um imóvel com todas suas as informações principais, data da construção, proprietário, obras de melhoramento, preços de compra e venda, e permitir a transferência imediata do direito de propriedade do bem, é uma ferramenta que mudará o mercado imobiliário tal como o conhecemos. Embora, pontualmente, já se tenham realizadas transações de imóveis físicos por meio de um NFT, o processo ainda está numa fase embrionária, com muitas questões para resolver, nomeadamente a parte legal.
Recentemente iniciei um curso numa Universidade Europeia e todo o processo de inscrição e participação decorreu através de um token na minha carteira descentralizada. Também na educação já se iniciou a adopção desta nova tecnologia para certificar cursos, agilizar o processo de aprendizagem e combater a fraude.
Ao permitir o registo clínicos, os NFTs poderão ser uma plataforma para armazenar a informação clínica de um paciente, sem comprometer a confidencialidade e a manipulação de dados, assegurando de forma segura e imediata, em qualquer hospital, não só nacional, o acesso ao registo por pessoal médico autorizado.
Outra área que se apresenta promissora para a utilização de NFTs é a das cadeias de fornecimento, supply chain, na Indústria e Agricultura. Ao atestar a origem de um produto, composição, transporte e entrega, dá ao consumidor a informação precisa do que está a adquirir.
A indústria de jogos de computador, videogames, há muito tempo que percebeu a importância dos tokens não fungíveis como extensão natural dos jogos electrónicos e a sua ligação ao Metaverso. Ao conferirem a possibilidade de compra e venda de activos de um jogo, expandem para outros limites as suas potencialidades. Uma indústria em pleno redesenho, de que a Sega é um dos expoentes.
Estes são alguns exemplos da utilização de NFTs no nosso quotidiano num futuro que já é hoje. Uma nova realidade a dar os primeiros passos, com muito a melhorar e fragilidades a corrigir. A tecnologia Blockchain, é recente e ainda padece de problema de congestão, segurança, interoperabilidade entre redes e escala. Do ponto de vista legal, a regulação é insipiente e de difícil aplicação internacional. Cada país tem o seu normativo, mas que nos abre as portas a uma nova era digital com um grande número de aplicações no mundo real. Uma dinâmica que nos remete para os primeiros dias da internet, em 1992, quando nos falaram da “superestrada da informação”. Só mais tarde percebemos o significado dessas palavras.

 Manuel Veloso

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