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Leitores: O Sport Benfica e Castelo Branco. O início do futebol em Castelo Branco

Joaquim Lalanda - 02/11/2023 - 9:50

A notícia mais antiga que conheço sobre um jogo de futebol em Castelo Branco foi publicada no jornal “Notícias da Beira”.

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A notícia mais antiga que conheço sobre um jogo de futebol em Castelo Branco foi publicada no jornal “Notícias da Beira”. Aconteceu a 14-Abril-1912. A informação aparece integrada num texto sobre as festas académicas. Diz apenas: “Match de Foot-Ball: fez o batizado da bola o sr Governador Civil, ganhando o grupo amarelo e preto a taça oferecida pelas senhoras.”
O jogo da bola agradou. Nos anos vinte, popularizou-se de tal forma que surgiram muitos clubes na cidade. A maior parte teve vida efémera. Estes clubes jogavam entre si e recebiam e deslocavam-se a outras localidades da região onde a prática do futebol ganhava interesse. Também vieram a Castelo Branco alguns clubes e selecções de Lisboa e arredores. No entanto, nestes casos, os resultados não foram lisonjeiros para os da casa.
De entre os clubes dos anos vinte sobressaíram, em épocas distintas, primeiro o Grémio Desportivo União e depois o Sport Lisboa e Castelo Branco. As duas equipas concentraram grande parte da actividade desportiva. O Grémio Desportivo União, em 15-Março-1925, no campo do Montalvão, chegou a defrontar o Sport Lisboa e Glória, uma selecção formada por alguns dos melhores jogadores da capital como os internacionais Francisco Vieira, Fernando Jesus e Vitor Hugo. O Sport Lisboa e Castelo Branco, possivelmente fundado em Setembro de 1924, solicitou e obteve o estatuto de Delegação do Sport Lisboa e Benfica (SLB).
O último clube formado na década de vinte foi a Associação Académica Albicastrense. O jogo de apresentação realizou-se no início de Março de 1929 contra a equipa do Liceu de Portalegre. Os albicastrenses foram derrotados por marca expressiva.
Com muitos clubes é fácil deduzir que o número de associados, quando os havia, era pequeno. Deste modo os jogadores, a maior parte vivendo com dificuldades económicas, tinham de suportar algumas despesas. Em 09-Junho-1929 aconteceu mesmo uma cena que hoje nos faz sorrir. O jogo entre a Associação Académica Albicastrense e o Sport Lisboa e Castelo Branco terminou trinta minutos depois de iniciado por ter rebentado a bola e não haver outra para a substituir.
O prazer de jogar futebol exigia dos jogadores um esforço físico que alguns tinham dificuldade em suportar. Era frequente e penoso ver jovens exaustos a meio de um jogo. O jornal “Acção Regional”, de 09-Julho-1925, manifestou-se contra a prática deste futebol e dos desportos em geral porque os atletas não tinham preparação nem cuidados de higiene. Dizia o artigo: “Quanto a nós, o desporto como o vemos por aí não só não é educação física, mas é precisamente o contrário. Como é que o desporto há-de fazer bem a uma criatura que não toma banho, que se alimenta mal e que respira pior? … É preciso que a direcção técnica seja confiada a pessoas competentes … e … que se subordinem inteiramente às prescrições dos médicos que todas as sociedades desportivas deviam ter. … Por amor de Deus, meus senhores, comecemos pelo princípio”.
Os actos de violência a que repetidamente se assistia também levavam a que as pessoas ordeiras se afastassem. O mesmo jornal “Acção Regional”, de 21-Outubro-1928, lamenta a falta de correcção do público e dos jogadores. O jornal apela à contenção dos “partidários” dos clubes para que “… amanhã não tenhamos que registar dissabores e a morte do foot-ball nesta cidade que há uns tempo a esta parte, não obstante possuir o melhor campo da província, a poucos jogos tem assistido e muito menos concorrido”. Para completar o mau ambiente e falta de respeito pelos espectadores, era habitual os jogos não terem início à hora marcada.
O entusiasmo pelo futebol dos primeiros tempos foi esmorecendo. Estas e outras causas devem ter contribuído para que no início da década de trinta não houvesse na cidade um único clube de futebol. O Distrito de Castelo Branco era mesmo dos poucos que não tinha uma Associação que organizasse e orientasse a prática do futebol. Para que esta fosse criada a Federação Portuguesa exigia a existência de clubes e de campos com condições. A cidade, para além de estar sem clubes, também não estava bem com os campos. Com a urbanização da Devesa, restou o campo do Montalvão; mesmo este não tinha os requisitos exigidos e era cobiçado pelo Regimento de Cavalaria para a construção de um campo de obstáculos. Nas outras localidades do Distrito também havia limitações.
Em Dezembro de 1933 a água canalizada chegou a Castelo Branco e a dinâmica de progresso e o desejo de ter uma Associação Distrital fizeram renascer o interesse pelo futebol. Em Fevereiro de 1934 foi fundado o Onze Vermelho Albicastrense e a seguir, em Abril, foi a vez de surgir o Sporting Clube de Castelo Branco. Acompanharam este movimento o Clube de Futebol dos Bombeiros Voluntários, o Clube de Futebol “Os Albicastrenses” e a Associação Académica Albicastrense. À excepção do clube dos Bombeiros Voluntários, todos os outros procuraram a identificação com clubes de futebol de projecção nacional.
A construção de um novo campo de futebol também entrava em via de concretização. O jornal “A Era Nova”, de 13-Abril-1935, informava que a Câmara Municipal, depois de diligências feitas com sucesso junto de António Abrunhosa e da Mesa da Santa Casa da Misericórdia, conseguiu a cedência de uma parcela de terreno para o “stadium”. As obras começaram logo e a bom ritmo. Um ano depois estava pronto. A vontade de jogar no novo e moderno campo de futebol era tanta que o Onze Vermelho Albicastrense e o Sporting Clube de Castelo Branco nem esperaram pela inauguração. A 10-Maio-1936 realizaram ali o primeiro jogo que os primeiros venceram. Finalmente, a 17-Maio-1936, foi inaugurado o Campo de Futebol do Vale do Romeiro com um jogo entre o Clube de Futebol “Os Belenenses” e o Vitória Futebol Clube, de Setúbal; naquele tempo duas das mais importantes equipas da 1ª Divisão. Os primeiros também venceram. A cerimónia inaugural contou já com a presença da Associação Distrital de Futebol criada dois meses antes.
Mais uma vez constatamos que, numa cidade de pequena dimensão, foram muitos os clubes formados. Mais uma vez quase todos tiveram vida efémera. Sobreviveu o Onze Vermelho Albicastrense que hoje se chama Sport Benfica e Castelo Branco. Mas, isso é já outro capítulo que ficará enriquecido quando forem divulgados documentos de interesse que, por certo, se encontram no Arquivo Histórico do popular clube.
Nestas notas incluo cópias do cabeçalho das cartas do Onze Vermelho Albicastrense e do Ofício Nº 344, de 27-Março-1934, do Comando da PSP de Castelo Branco para o Governador Civil. Pelas informações que contêm são documentos com valor imprescindível para a história do futebol em Castelo Branco e, sobretudo, para a história do Sport Benfica e Castelo Branco. Este último é como que a sua “Certidão de Nascimento”. O conhecimento dos dois documentos deve-se ao trabalho de pesquisa de Arnel Afonso.
Recordo os vários nomes que teve o Sport Benfica e Castelo Branco:
- Fevereiro-1934 – Fundação do Onze Vermelho Albicastrense
- 03-Junho-1936 – Alteração do nome para Sport Lisboa e Castelo Branco
- Época 1949/50 – Alteração do nome para Associação Desportiva de Castelo Branco
- Época 1952/53 – Alteração do nome para Sport Benfica e Castelo Branco
Sublinho: O Onze Vermelho Albicastrense, que começou por ser a Filial Nº 30 do SLB, foi fundado em Fevereiro de 1934. Teve Estatutos aprovados pelo Governo Civil em 24- Março-1934. Hoje chama-se Sport Benfica e Castelo Branco e, por renumeração, é desde 1976 a Filial Nº 7 do SLB. Brevemente completa noventa anos. Vai entrar na “Década do Centenário”. Parabéns, longa vida e continuação dos êxitos desportivos.

Joaquim Lalanda

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