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Operadores deixam concelho a falar sozinho

João Carrega - 11/07/2022 - 11:18

O concelho de Castelo Branco é um dos que apresenta mais problemas ao nível das comunicações a nível nacional.

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Os operadores de comunicações em Portugal (MEO, NOS e Vodafone) têm deixado uma parte significativa do concelho de Castelo Branco a falar sózinha. Isso mesmo revela o estudo realizado nos dias 13, 14, 15, 20 e 21 de junho pela Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM). Os dados mostram que, no caso da MEO, a qualidade do sinal foi inexistente, muito má ou má em 25% das amostras efetuadas. Na NOS, esse valor sobe para 32,8% e na Vodafone é ainda mais elevado, 52,1%.

O estudo consistiu na elaboração de 1911 chamadas de voz, 457 sessões de dados e 153 mil 183 medições de sinal de rádio, em todo o concelho. A equipa da ANACOM percorreu 654 quilómetros, realizando os testes nas diferentes localidades, vivenciando na prática as dificuldades que essas populações têm em comunicar.

João Cadetes de Matos, presidente da ANACOM, sublinha a ideia de que “todas as pessoas devem ter acesso a boas comunicações, sejam telefónicas, móveis ou postais”.

No caso do concelho de albicastrense a situação é preocupante: “11% das chamadas realizadas nos testes falharam. Significa isto que não foi possível estabelecer ou concluir com sucesso uma chamada em cada 10 (média dos três operadores)”, refere o estudo apresentado na passada sexta-feira na Câmara de Castelo Branco. Se analisarmos ao detalhe, verifica-se que na MEO 10,6% das chamadas de voz efetuadas falharam. Na NOS esse valor desce para os 8,4%, e na Vodafone sobre para os 13,4%.

Estes dados poderiam ser diferentes se “existissem acordos de roaming nacional em Portugal, permitindo que os clientes de qualquer um dos operadores se pudesse conectar à antena de outro operador quando a qualidade de sinal do seu operador não fosse aceitável, teríamos uma cobertura agregada de melhor qualidade no concelho de Castelo Branco”, diz o estudo.

DADOS Mas se a qualidade das chamadas de voz deixa muito a desejar, no que respeita à velocidade de internet o panorama também é muito preocupante. Na MEO registaram-se anomalias em 43,8% dos testes. Na NOS descem para os 31,6% e na Vodafone sobem para os 46,7%. Estas ‘irregularidades’ dizem respeito a testes falhados ou testes com falhas parciais.Também na rede fixa, há uma área significativa do concelho que não tem fibra ótica.

Luís Roque, responsável pelo estudo, diz que as regiões oeste e noroeste do concelho “são as mais críticas em termos de cobertura. Em sete localidades, nos pontos de medição, não existe qualquer hipótese de comunicação quer em voz ou dados, registando-se uma total ausência de cobertura de rede móvel, nomeadamente em Vale de Figueira, Pé da Serra, Pomar, Lisga, Sesminho, Tripeiro e Praia Fluvial da Cerejeira (esta última do concelho de Proença-a-Nova)”.

Mas se se avaliarmos apenas o acesso a dados, explica Luís Roque, “verifica-se que nas localidades de Monte do Chaveiro, Mata, Vale da Torre, Casal da Serra, Tripeiro, Partida, Vale de Figueira, Rochas de Cima, Ribeira de Eiras, Ingarnal, Azenha de Cima, Pisão, Pé da Serra, Monte Goula, Gatas, Almoinhas, Azenha de Baixo, Gualdins, Pomar, Lisga, Sesmo, Sesminho, Paia Fluvial da Cerejeira, Gaviãozinho e Vale Bonito não existe possibilidade de aceder à Internet com total ausência de acesso a dados”.

FREGUESIAS O presidente da ANACOM ouviu com atenção os presidentes das freguesias de Lardosa (entregou um abaixo assinado com 500 assinaturas, a contestar sobretudo a falta de fibra ótica), Monforte da Beira, Sarzedas, Santo André das Tojeiras, Ninho do Açor/Sobral do Campo, Póvoa Rio de Moinhos/Caféde, Freixial do Campo/Juncal do Campo, Benquerenças e Castelo Branco.

No entender de João Cadete de Matos “esta situação tem que ser corrigida. Este diagnóstico serve para identificarmos o que está mal e o que é preciso mudar. Foi um estudo feito com detalhe. Já fizemos em mais de 20 concelhos e Castelo Branco é um dos que tem mais problemas. Há pessoas que vivem no concelho e que nem têm acesso à rede 2G. Por isso, deve haver prioridade para essas localidades”.

Os resultados do estudo demonstram a descriminação que a população e as empresas do concelho de Castelo Branco estão a sofrer. João Cadete de Matos lembra que “ao divulgar este estudo estamos a dizer, de viva voz, às empresas que devem corrigir estas situações e naquelas em que a situação é pior é onde devem investir mais”, acrescentando que “temos tido bons exemplos no país em que houve essa mudança de atitude”.

O presidente da ANACOM considera que a “rede móvel deve estar presente em todo o lado. Mas a rede fixa, de fibra ótica, também deve merecer atenção. Tem que se garantir que todos os alojamentos em Portugal tenham fibra ótica. O Governo já assumiu isso e a ANACOM está empenhada”, disse.

A posição da União Europeia e de Portugal em corrigirem as falhas de mercado, no sentido de financiar projetos de fibra ótica, também mereceu referência de João Cadete de Matos. “Por isso”, sublinhou, “é importante a realização destes estudos para identificar as zonas brancas (onde não existe fibra ótica), de modo a que possam lançar um concurso internacional”. No seu entender deveria haver a exigência de ser um operador grossita a efetuar esse serviço, de modo a que “a fibra ótica possa ser utilizada pelos diferentes operadores retalhistas. Isto terá a vantagem do investimento ser partilhado”. A expetativa é que dentro de dois ou três anos o processo possa estar concluído.

 

Todas as freguesias

com 100 megas

João Cadete de Matos, presidente da ANACOM, reafirmou em Castelo Branco, aquilo que o Reconquista já tinha divulgado, de “90% da população de cada freguesia de baixa densidade deva ter Internet com uma velocidade de 100 Mbps, em 2025,, sendo que em 2023 essa obrigação é de que 75% da população esteja coberta”.

Aquele responsável recorda que esse aspeto resulta do leilão de 5G, o qual envolveu a MEO, NOS, Vofafone, Nowo, Digi (empresa romena, presente em Espanha e Itália) e a Dense Air.

Os diferentes presidentes das diferentes freguesias presentes na apresentação do estudo, aproveitaram a ocasião para lamentar as dificuldades por que os seus cidadãos passam. “Por vezes para fazer um telefonema têm que sair de casa e ir para um local mais elevado”, referiram.

Somos o país que paga

mais em comunicações

O presidente da ANACOM, João Cadete de Matos, referiu, em Castelo Branco, que “pagamos os preços mais altos de comunicações, na Europa. Somos também um dos que temos mais contratos por pacotes (televisão, chamadas e acesso à internet) e um dos que mais paga para ver televisão (90% tem televisão paga)”. A questão é que enquanto noutros países, em que há uma maior concorrência, os preços desceram, em Portugal eles subiram.

Aquele responsável lembra que há “urgência em alterar as regras da fidelização (nos operadores) em Portugal. O custo da cessação dos contratos é muito elevado no nosso país. Esperemos que a Assembleia da República altere a lei e aplique o código europeu.

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