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Opinião: O que se escreve e o que se entende

José Júlio Cruz - 25/03/2021 - 9:37

A profusão de comentários e de interpretações que se fazem nas redes sociais sobre tudo e mais alguma coisa é talvez um dos maiores sinais dos tempos que atravessamos. Sinais contudo controversos, a maior parte das vezes despropositados, descontextualizados e efetuados sem se ler sequer o que muitas vezes está escrito e os motivou.
Se, por um lado, as mesmas redes democratizaram o acesso de todos a tudo, por outro transformaram-se também num megafone de parvoíce, populismos e estupidez. É o preço que se paga.
Mas, antes que se coloquem regras impeditivas do que quer que seja (não é essa a minha intenção) devia-se aplicar a mais elementar de todas, a do bom senso.
O que escrevo aplica-se genericamente a muitos setores de atividade e também ao jornalismo. Basicamente uma notícia é composta por um título, um texto que o suporta, uma foto e uma legenda.
Quando se separa uma dessas partes do corpo é como se analisássemos um ser humano apenas pela cabeça ou por um braço ou uma árvore só pela raiz ou pelas folhas, só para dar dois exemplos.
Assim (e refiro-me a notícias do jornal onde trabalho para não ferir suscetibilidades) quando se lê um título “Pais acusam creche de queimar bebé” isso não significa que alguém tenha deitado o fogo à criança ou que a mesma tenha sido envolvida pelas chamas de um incêndio ocorrido em determinada instituição; da mesma forma que quando se lê “Câmara justifica ajustes diretos com incapacidade das empresas locais” não significa que o presidente do município tenha desatado a atirar-se a quem opera localmente por ser incapaz do que quer que seja ou incompetente.
É preciso ler para entender. E, se por um lado, os jornalistas e os jornais devem ser responsáveis e responsabilizados pelo que escrevem, já o mesmo não deverá acontecer pelo que os outros entendem.
É preciso ler. E ler uma notícia não significa apenas ler a legenda ou o título, ou olhar para a foto. Convém que se analisem os temas noticiosos  como um todo.
É lógico que quem quer tirar partido de determinada situação para esgrimir pontos de vista numa qualquer rede social, fá-lo apenas com a parte desse corpo que lhe convém (quantas vezes até jornalistas o fazem).
Depois, tal como o incendiário, é só deixar arder. Os comentários que se seguem, quantas vezes cegos e descontextualizados, crescem como labaredas e os seus autores apenas comentam a parte, o comentário de quem utilizou a parte para determinado fim e às vezes nem isso. 
Opinem sobre o que quiserem. Mas leiam. Ajuda.

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