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Os impactos sociais das atividades: Cultura de Trabalho

Luís Beato Nunes - 03/05/2018 - 10:16


«Os portugueses trabalham muito e mal. Se ligarem para um escritório de uma empresa alemã às 17h30, ninguém atende, a não ser que trabalhe lá algum português»

Nadim Habib, CEO da Executive Education, NOVA School of Business and Economics de Portugal e Angola

A frase supra citada foi proferida numa entrevista sobre gestão e organização do trabalho e há muito que reflete o pensamento do referido autor, mas não é muito diferente do que a maioria dos portugueses sente em relação à sua atividade profissional.
Seja por necessidade, por prazer ou por hábito, as horas que passamos no trabalho são usadas orgulhosamente em qualquer argumentação sobre a dedicação laboral e o nosso comprometimento profissional.
É natural, ninguém gosta de ser categorizado de preguiçoso, mas mensurar a nossa capacidade de trabalho pelas horas que passamos no escritório, na fábrica ou na terra seria o mesmo que afirmar que todas as equipas de futebol deveriam ganhar os seus jogos se apenas comparecessem os 90 minutos em campo.
Tal como no desporto, o resultado do trabalho deve igualmente ser importante, provavelmente não o mais importante, uma vez que não vale tudo para obter os resultados desejados, mas seguramente deveria ser uma prioridade.
Compete à gestão definir objetivos mensuráveis, plausíveis, sustentáveis e motivar as equipas de trabalho para alcançar as metas propostas, facilitando igualmente todas as condições para que os resultados sejam realmente concretizados.
Mais do que as horas passadas a trabalhar, seria relevante perceber o que conseguimos realizar durante essas horas, quantos problemas resolvemos, quantas encomendas despachamos e com que qualidade o fazemos.
No final, o que realmente importa é o impacto social da nossa atividade profissional e não quanto tempo a passamos a fazer, porque, verdadeiramente, ninguém beneficia do trabalho de outro se este passar o dia a contar os segundos e os minutos entre as 9H00 e as 17H00.
E se as metas são cumpridas às 16H00 ou às 15H00 também não se percebe bem a obrigação “moral” de ficar a contar os minutos até podermos dar por terminado o “dia normal” de trabalho.
Dito isto, há uma qualidade distinta que dificilmente se encontra em qualquer parte do mundo a não ser em Portugal: a capacidade de adaptação e de encontrar soluções quando todos já desistiram.
Esta capacidade é apreciada em todos os setores de atividade e em todas as organizações, porque por mais planos que se façam, por mais detalhados que sejam os objetivos, haverá sempre imprevistos e erros, e face a estas situações é fundamental adaptarmo-nos e não perder o foco.
O pequeno livro “Uma Carta para Garcia” é uma referência no mundo empresarial, porque descreve a concretização de uma missão por um soldado, ultrapassando várias adversidades para entregar uma mensagem a Garcia.
Sem questionar, sem ler a mensagem e sem saber onde estava Garcia, o soldado cumpriu a sua missão, tendo que improvisar ao longo da sua aventura para alcançar os resultados pretendidos pelas suas chefias.
No mundo moderno, não podemos pedir que os “soldados” não questionem as ordens, até porque a crítica é fundamental para que as organizações sedimentem a sua argumentação, certificando-se que estão a agir de forma correta, mas é igualmente importante improvisar para que as “cartas” sejam entregues.     

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