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Leitores: A origem albicastrense de Amália Rodrigues

José Martins Barata de Castilho - 15/06/2022 - 10:26

Muita gente pensa que a família de Amália Rodrigues era toda do Fundão e quase ninguém sabe que o pai nasceu na Rua do Pina de Castelo Branco.

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Amália Rodrigues. Foto DR

Muita gente pensa que a família de Amália Rodrigues era toda do Fundão e quase ninguém sabe que o pai nasceu na Rua do Pina de Castelo Branco, conforme seu registo de baptismo na Sé, que aqui se reproduz, numa casa que esperamos identificar quando for possível consultar o Rol de Confessados de 1888.
Faz agora 134 anos que Albertino de Jesus Rodrigues nasceu aqui, no dia 8 de Junho de 1888.
Os padrinhos foram os tios Jerónimo Rodrigues (também correeiro) e Maria da Conceição, moradores em Castelo Branco. O pai, Jorge Rodrigues, assinou o registo com boa caligrafia, como se vê pela imagem do registo. 
O bisavô de Amália, Joaquim Rodrigues,  nasceu na Taberna Seca, foi baptizado na Igreja de Santa Maria do Castelo (então uma das duas freguesias da cidade), em 1827 e casou nos Escalos de Baixo. O avô, Jorge Rodrigues, nasceu na Lardosa, em 1857 e viveu em Castelo Branco, na Rua do Pina, onde se supõe que tivesse loja de correeiro.
Uma profunda pesquisa em várias fontes, incluindo os assentos paroquiais da Sé,  de Santa Maria do Castelo, Igrejas das Sarzedas, do Salgueiro do Campo e Orvalho originou um extenso artigo que vai sair no próximo número da revista Raízes & Memórias, da Associação Portuguesa de Genealogia, que se espera vir a público no próximo mês de Julho e que venha a estar disponível para venda na nossa cidade. Aí vêm indicadas todas a fontes que fundamentam o que escrevi. Resolvi fazer este excerto nesta altura e publicá-lo neste jornal, para relembrar o aniversário de nascimento de Albertino de Jesus Rodrigues.
A apresentação da genealogia pela via varonil é a forma mais corrente de a expor, quando se segue o trajecto dum apelido, neste caso Rodrigues, e a artista identificava-se mais com esta linha, apesar de ter vivido uma infância exclusivamente ligada à parte da mãe, em Lisboa e no Fundão. Acrescente-se que foi o apelido Rodrigues que ela escolheu definitivamente para o seu nome artístico, depois duma primeira experiência, falhada, com o apelido Rebordão, da parte da mãe. 
A corroborar a sua preferência, atente-se no que ela disse na entrevista a Manuel da Fonseca (no livro Amália nas suas Palavras) : “A minha mãe é uma pessoa sem afinidade nenhuma comigo. É uma pessoa extraordinária, a quem reconheço imensas qualidades, mas eu não tenho nada, nada, nada a ver com a minha mãe. Nada! Nem ela a ver comigo nem eu com ela…”. 
Já o pai – dizia – era como ela, fechava os olhos quando tocava clarinete e só tocava o que gostava, como ela só cantava o que lhe agradava e fechava os olhos a cantar. 
O casal mais antigo que se conhece, donde parte esta linha Rodrigues, é de origem por enquanto desconhecida. Apenas se sabe que o primeiro Rodrigues era natural da aldeia da Póvoa da Ribeira, então na freguesia do Orvalho (actualmente na freguesia do Vilar Barroco, desde 2013, União das Freguesias do Estreito-Vilar Barroco), então pertencente ao termo da Covilhã (actualmente é uma freguesia do município de Oleiros), segundo o assento. 
Vejamos, então. 

Assento de baptismo do pai de Amália, na Sé de Castelo Branco, com montagem da sua fotografia


1. ANTÓNIO FERNANDES, N. c. 1596, c. c. ANTÓNIA ANTUNES, N. c. 1596. F. 5-09-1644, Póvoa da Ribeira, Orvalho. Moradores na Póvoa da Ribeira. 
Nonos-avós de Amália 
Não se percebendo de qual deles vem o apelido Rodrigues, tivemos conhecimento deles através do assento de casamento do seu filho António Rodrigues, na Igreja Paroquial de São João Baptista de Cambas (11-04-1646), com Maria Antão, natural da aldeia do Ademoço, na freguesia de Cambas, concelho de Oleiros, filha de Gaspar Domingues e de Catarina Antão. 
Tiveram: 
2. ANTÓNIO RODRIGUES, N. c. 1621, Póvoa da Ribeira, Orvalho, c.c. MARIA ANTÃO, N. c. 1621, Ademoço, Cambas. 
Oitavo-avô de Amália. 
Tiveram: 
4. MARIA RODRIGUES, N. c. 1677, Sarzedas, Castelo Branco, c. c. MANUEL FERNANDES PAULLOS, N. c. 1677, Salgueiro do Campo. 
Sexta-avó de Amália. 
Casaram nas Sarzedas em 7-06-1701, em cujo assento vêm as filiações e naturalidades. 
Aí consta que Manuel Fernandes era filho de Paullo Fernandes e de Catarina Pires, do lugar do Salgueiro. 
Tiveram: 
5. INÁCIA RODRIGUES, N. c. 1702, f. 12-08-1730 Sarzedas, Castelo Branco, c. c. MANUEL DIAS, N. c. 1702, Guarda. 
Quinta-avó de Amália. 
Apesar de pesquisas exaustivas não se conseguiu encontrar o assento de baptismo de Inácia, mas é quase certo que nasceu em 1702, já que os pais casaram em 7-06-1701, ela teve o filho em 1727 e faleceu três anos depois. 
Tiveram: 
6. TOMÁS RODRIGUES, N. 16-04-1727, Sarzedas c. c. CATARINA RODRIGUES, N. Sobral do Campo, concelho de Castelo Branco (em ambos os casos). 
Tetravô de Amália. 
Catarina Rodrigues, nascida no “Sobral termo de S. Vicente da Beira”, era filha de Jacinto Afonso, do Vale da Saraça, termo das Sarzedas, e de Maria Gonçalves, da vila de Penamacor. 
Tiveram: 
7. JOSÉ RODRIGUES, N. 9-02-1769, Sarzedas, Castelo Branco, c. c. MARTINHA MARIA, N. 13-04-1788, Palvarinho, Salgueiro do Campo, Castelo Branco; filha de João Martins e de Clara Maria.
Trisavô de Amália. 
Casou com Martinha Maria em 11-8-1813 na igreja Matriz de Castelo Branco, na altura, transitoriamente, a capela de S. Brás, nas imediações da igreja de Sta Maria (incendiada pelos franceses em Novembro de 1807, 1ª invasão, e ainda não reedificada), era viúvo de Adélia Martins, ambos do Monte da Taberna Seca, segundo este assento. Não há livros para o período em que ele fez 25 anos de idade, não se localizou este primeiro casamento, o que causou um quebra-cabeças. 
Uns registos atribuem-lhe a naturalidade das Sarzedas, outros da Taberna Seca. O seu assento de baptismo atesta que nasceu nas Sarzedas. O primeiro casamento foi na Taberna Seca e o segundo também. Assim lhe foi atribuída esta última localidade, pertencente à freguesia de Santa Maria, Castelo Branco, pois foi na Matriz desta cidade que casou, não na das Sarzedas ou na de Salgueiro do Campo, esta a freguesia da noiva. 
Tiveram: 
8. JOAQUIM RODRIGUES, N. 10-01-182, Taberna Seca, Santa Maria do Castelo, Castelo Branco, c. c. JOAQUINA MORUJO, N. 3-06-1826, Escalos de Baixo, Castelo Branco. 
Bisavô de Amália. 
Taberna Seca era então um Monte, hoje uma pequena povoação, que continua a pertencer à freguesia de Castelo Branco. Casou nos Escalos de Baixo, Castelo Branco, mas o casal instalou-se na Lardosa, no mesmo concelho, onde tiveram o filho Jorge. 
Exercia a profissão de correeiro. 
Joaquim Rodrigues residiu também no Fundão, pois o casal teve lá o filho Jerónimo Rodrigues, em 1861, que casou em 2-12-1883 na Sé de Castelo Branco com Maria da Conceição, das Benquerenças, já então freguesia, concelho de Castelo Branco, correeiro, residente em Castelo Branco, onde teve um filho, de nome Jorge, baptizado na Sé, em 29-06-1891, sendo padrinho o irmão Jorge, avô de Amália, também correeiro. 
Tiveram: 
9. JORGE RODRIGUES, N. 13-04-1857, Lardosa, Castelo Branco, c. c. CLEMENTINA DE JESUS ABRANTES, N. Coimbra. 
Avô de Amália. 
Clementina de Jesus Abrantes foi criança exposta em Coimbra e tinha ocupação doméstica em Castelo Branco, quando casou. 
Mudaram-se para o Fundão, supomos que posteriormente ao baptismo do sobrinho de quem Jorge Rodrigues foi padrinho de baptismo em Castelo Branco, em1891. 
Revelaram-se infrutíferas as morosas pesquisas que fizemos para encontrar o registo de outros filhos do casal, quer nos livros da Sé de Castelo Branco, quer na matriz do Fundão. Sabemos que existiram, tal foi o caso dos padrinhos de Amália, Francisco Rodrigues e Amália Maria Rodrigues, mais uma tia que vivia em Lisboa, Felisberta Rodrigues, mãe de Jaime Fonseca e Sousa, militante comunista que morreu preso no Tarrafal, em 1940. 
Tiveram: 
10. ALBERTINO DE JESUS RODRIGUES33, N. 8-06-1888, Castelo Branco; F. 13-05-1962, S. João de Deus, Lisboa, c. c. LUCINDA DA PIEDADE REBORDÃO, N. 2-05-1892, Fundão; F. 23-11-1986). 
Pai de Amália.
11. AMÁLIA DA PIEDADE RODRIGUES, n. Junho de 1915, Fundão,  oficialmente na freguesia da Pena, Lisboa, 23 de Julho de 1920,  f.  6-10-1999, Santa Isabel, Lisboa.
Não se conhece em Castelo Branco qualquer familiar de descendência do avô ou bisavô de Amália. Suponho que foram todos para Lisboa, à semelhança dos nomes que identifiquei atrás.
Para terminar dou a notícia de que outra pesquisa demorada e mais difícil do que a de Amália (na qual tive muita sorte!),  em que me debati com muitas faltas de registos, resultou na descoberta da genealogia do jovem cantor albicastrense Rodrigo Lourenço e de um elo de parentesco com a linha Rodrigues de Amália, a partir dum casal do Carrascal (Sarzedas). Também ele teve antepassados Rodrigues. Toda esta matéria será objecto de uma palestra minha na próxima Tertúlea Genealógica  no solar dos Cardosos, no próximo mês de Outubro (se tudo correr normalmente), organizada pela Pinacoteca, CRL e Associação Portuguesa de Genealogia.


 

COMENTÁRIOS

Maria Helena
à muito tempo atrás
Os irmãos dos avós da Amália que se perderam, meu sogro, Joaquim Rodrigues é um deles, ou seja, é primo irmão da Amália, teve 12 filhos, eu casei com um filho, tivemos 2 filhos, que nasceram em castelo branco. Existe por aqui a outra linha familiar.
Antonio Felipe
à muito tempo atrás
Sou bisneto de Felisbela de Jesus Rodrigues. Tia de Amália Rodrigues e primo de Amália Rodrigues
Gostaria que entrassem em contacto comigo.
Obrigado
António Gomes
Herdade amalia rodrigues
Lusitano
à muito tempo atrás
Não percebo: no assento de batismo de Albertino de Jesus Rodrigues constam como avós maternos José Ribeiro e Teresa Ribeiro e de pois diz que Clementina de Jesus Abrantes era criança exposta.
Essa hipótese de criança exposta até pode ser boa visto que nos paroquiais da paróquia de Santa Cruz de Coimbra encontra-se o batismo duma Clementina exposta a 2 de julho de 1854 e batizada aos 03: a madrinha era Teresa de Jesus, rodeira.
Enquanto a mim sou neto duma prima em 9° grau da Amália, que também chamava-se Amália no Orvalho.
A M
No ano passado
Rol de Confessados de 1888.
Por gentileza e mt interesse gostaria de saber onde se encontra.
Bem haja
Rui Pereira
No ano passado
Boas, gostaria de saber se tinham informação sobre Adriana Rodrigues Batista (minha bisavó) ou Mateus Antonio Fradinho... Ambos do fundão e já falecidos à bastantes anos. Tinham como filha Carolina Batista Fradinho, minha avó. Agradeçido e esperarei algumas respostas,
Cumprimentos