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Pais em Tempos de Crises: Crianças e adolescentes: um olhar mais para o longe e mais para o fundo

Mário Freire - 24/06/2021 - 9:19

Em notícia vinda na newsletter da ONU de 10 deste mês de Junho diz-se que das 700.000 pessoas deslocadas em Cabo Delgado, Moçambique, 322.000 são crianças. Esta informação vem do Director Regional do Unicef, Malick Fall, para a África Oriental e Austral, visitando aquele País. Refere-se ainda que uma das suas maiores preocupações é a protecção das crianças, tendo sido já identificados 1970 meninas e meninos desacompanhados. Fall afirmou que “é de partir o coração conhecer as crianças e perceber que, desde o ataque em Palma, no final de Março, elas estão separadas de suas famílias, entrando em barcos onde não conhecem ninguém e, todos os dias, perguntam pelos pais… sem qualquer resposta.”
A subnutrição é outro grande problema com que se defrontam aquelas crianças, tendo, ele próprio, observado uma delas, agora a recuperar, que esteve à beira da morte por falta de comida, não fosse ter sido assistida por um centro apoiado pelo Unicef.  
Olho agora, no mesmo continente, para Marrocos e cito uma notícia do dia 20 do passado mês de Maio: “…restam as crianças e adolescentes que chegaram desacompanhados. Estima-se que nos últimos dias tenham chegado a Ceuta 1.500 menores, dos quais 850 estão agora a cargo das autoridades espanholas.”
Se considerar estes factos como uma das faces de um disco em vinil, ouviria muitos choros de crianças, gemidos, gente a correr, gritos de revolta…
Volto agora o disco e ponho-o a rodar na outra face. Eis que ouço, imaginando-me na cama do hotel de luxo Giraffe Manor, no Quénia, mais a norte de Moçambique, próximo da janela, um chilrear de passarada. Ouço um bater suave na porta do quarto; um empregado vem trazer-me o pequeno almoço. Abro os olhos e depara-se-me, através da janela, uma paisagem cheia de verde, tranquila, e girafas a passearem-se calmamente e, até, uma ou outra a espreitar para o meu quarto.
Entretanto, o tal disco de vinil deixa de emitir, praticamente, qualquer som. É que me imagino agora no hotel de luxo Royal Mansour de Marraquexe, Marrocos. As alcatifas absorvem o mínimo ruído e só os olhos me proporcionarão salas com grandes candelabros, reposteiros roçando o chão, carpetes que só poderão ser pisadas pelos hóspedes, restaurante que me proporciona escolher três tipos de cozinha: árabe, francesa e internacional e, até, um automóvel Bentley, conduzido por um motorista engravatado e de luvas brancas para me levar ou trazer do aeroporto. 
Diferenças sociais sempre as haverá. Já Jesus, no Evangelho de João, refere que “pobres, sempre os tereis convosco”. No entanto, as desigualdades gritantes chocam mais naqueles que, não tendo ainda capacidade para se autogovernarem, como são as crianças e adolescentes, entregues a si próprios, se vêem privados do mínimo essencial para viver. Eles têm que fugir das guerras provocadas por más governações locais, a maior parte delas corruptas e com a conivência de grandes empresas que exploram as riquezas daqueles países, mas, também, pela falta de empenho das grandes potências mundiais para impor a paz.
O que poderá fazer-se perante estas injustiças? Pelo menos, denunciá-las pode acalmar um pouco a nossa consciência! 
freiremr98@gmail.com

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