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Pais em tempos de crises: Dois lares sem discussões

Mário Freire - 25/05/2016 - 11:34

A cena passou-se num avião e vem descrita logo no início do livro “Casa da Mãe, Casa do Pai” de Isolina Ricci (Edições Sílabo, Lisboa: 2004). Passo a transcrevê-la:
“- Onde vives? Perguntou o homem de negócios à menina de nove anos sentada a seu lado.
- Vivo com o meu pai no Oregon e com a minha mãe na Califórnia.
- Mas onde é que vives? – Insistiu o homem de negócios.
- Vivo com o meu pai no Verão e com a minha mãe durante as aulas.
- Já entendi, querida – disse – mas onde é o teu verdadeiro lar? 
A menina parecia tão baralhada como o seu companheiro de viagem. Então explicou:
- Tenho dois lares verdadeiros. A casa da minha mãe e a casa do meu pai.”
Esta criança passou pela experiência de um lar dividido para a situação de um lar multiplicado. Os pais desta criança conseguiram entender-se quer no modo de a educar, quer na maneira de gerirem os tempos em que ela passa na companhia de cada um dos seus progenitores.   
Segundo a autora da obra atrás referida, não sendo possível a coabitação harmoniosa dos pais, as crianças preferem mais os dois pais vivendo, cada um deles no respectivo lar do que um único lar, com o outro progenitor na condição de a levar a sair de vez em quando. Mesmo quando um dos lares, na condição de separação dos pais, ainda não está constituído, a criança tenta, desde logo, deixar no local de habitação do outro progenitor, que não tem a sua guarda, qualquer objecto, um livro, um par de sapatos, etc., que possa marcar o seu território. Parece querer dizer-lhe que ali, onde ele agora habita, há também um lugar para ela, que é também seu filho, e que aquela também é a sua casa. 
Esta situação, de a criança querer estar com os seus dois pais, ocorre quando não há alienação parental, isto é, quando um dos progenitores, a quem a criança está confiada, não tenta eliminar ou distorcer a imagem do outro, levando-a a rejeitá-la. Este fenómeno, infelizmente, ainda é frequente e os pais que assim procedem não sabem o mal que estão a infligir aos seus filhos. Afinal, o que os filhos desejam, quando não é possível os pais viverem num só lar, é que cada um dos progenitores continue a assumir o papel de pai e o papel de mãe mas, agora,… sem discussões.

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