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Pais em tempos de crises: Novas questões para novas conjugalidades

Mário Freire - 14/06/2018 - 9:36

Vai-se assistindo, com maior frequência, a que as pessoas se casem cada vez mais tarde e vão tendo menos filhos. Esta tendência, embora global, tem múltiplas causas: a elevação da escolaridade a nível mundial, a prioridade em encontrar um trabalho remunerado que dê autonomia, o desemprego ou a precariedade no emprego mas, também, a intervenção de certos Estados mais autoritários, como na China entre 1979 e 2015, com a imposição de um filho único ou, ainda, outros Estados na Ásia, África e América Latina que conduziram políticas de redução demográfica. 
Por outro lado, no Ocidente, a igualdade cada vez maior a que se vai assistindo entre homem e mulher no acesso ao emprego, a maior comunicação que se verifica entre os sexos, seja no trabalho ou fora dele, e de que as redes sociais são factor relevante, originaram outras formas de conjugalidade. Tudo isto contribuiu para que a família sofresse alterações profundas. Quais as consequências de todas estas alterações?
Em Auxerre, cidade francesa, teve lugar em Novembro de 2017, um conjunto de debates em que se discutiu a família, as novas formas que ela está tomando e as respectivas consequências.
Tem-se assistido, entretanto, nas famílias ocidentais, a uma perda de ritos, isto é, de cerimónias identificadoras de determinados acontecimentos considerados importantes na vida. Assim, a celebração do casamento religioso caiu abruptamente e, até mesmo, a do casamento civil. O baptismo dos filhos, de igual modo, declinou em flecha. O número de filhos fora do casamento suplantou os que nascem de pais casados. Se ocorre a necessidade de ritualizar o casamento, de lhe dar um certo cunho formal, ele tem lugar, frequentemente, já com filhos nascidos.
Várias expressões, traduzindo acontecimentos que atingem o cerne do conceito da família tradicional, começaram a associar-se ao termo família. Assim, as roturas das uniões, os divórcios, as famílias recompostas, a monoparentalidade, as uniões de facto, a união homossexual, a guarda alternada dos filhos, a procriação medicamente assistida, são termos que, no Ocidente, não parecem coadunar-se com a noção que havia, até aos anos 90, do modelo da família nuclear (homem e mulher casados e seus filhos vivendo sob um mesmo tecto).
Será que estes novos tipos de famílias trazem maior felicidade aos pais e melhores condições de desenvolvimento aos filhos? Eis questões abordadas nos debates de Auxerre e para as quais nem sempre houve unanimidade. Mas aquilo que vimos, ouvimos e experimentamos talvez possam ajudar-nos a dar uma resposta mais fundamentada. 
freiremr98@gmail.com

 

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