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Pais em tempos de crises: Os pais, as crianças e os livros

Mário Freire - 07/12/2017 - 9:23

Cada vez mais o uso de livros electrónicos (e-books) está a generalizar-se. E não admira que eles passem, num futuro próximo, para o quotidiano das escolas e das casas de família. 
Neste sentido, tem interesse uma experiência, publicada já este ano, feita por duas investigadoras, uma norte-americana e outra canadiana e que vai contra a corrente que desaconselha o uso de dispositivos com ecrã para as crianças com menos de três anos. Aliás, já nesta coluna, em 3 de Agosto passado, num artigo intitulado “Deixar a criança interagir com o smartphone”, se deu conta da “suspeita que estes dispositivos com ecrã, interactivos ou não, atrasariam não só a linguagem da criança mas, também, a sua atenção, a sua socialização, a qualidade do seu sono, etc.” Note-se que, na experiência então relatada, as crianças, entre os 6 meses e os 2 anos, eram deixadas a brincar com estes equipamentos. 
Na experiência que agora se refere, estas duas investigadoras solicitaram aos pais de 102 crianças com idades entre os 17 e os 26 meses, aleatoriamente escolhidos, para lerem dois livros electrónicos, comercialmente disponíveis, ou dois livros em papel, com conteúdo idêntico, para os seus filhos. Após a leitura, as crianças foram convidadas a identificar um animal existente num dos livros, seja sob a forma de imagem, seja numa réplica em relevo.
Ora, as crianças que acompanhavam a leitura dos livros electrónicos pelos pais estavam mais atentas, apresentaram efeitos mais positivos na identificação dos animais e produziram mais comentários durante a leitura do que aquelas cujos livros foram lidos pelos pais nas versões impressas em papel. Além disso, as crianças que acompanharam a leitura dos livros electrónicos aprenderam mais novas palavras do que as outras.
Num primeiro relance, comparando o que se disse em 3 de Agosto passado sobre o “Deixar a criança interagir com o smartphone” com o que agora se relata, parece haver contradição. Analisando, porém, as duas situações, verifica-se que tal não existe. Assim, no primeiro caso, a criança era deixada sozinha a brincar com o smartphone, sem tempo marcado, e isso implicava maior probabilidade de ela adquirir atrasos na linguagem verbal e outras desvantagens; no caso que agora se menciona, há uma acção intencional, educativa, presencial dos pais junto das crianças. E este tipo de acção tem efeitos positivos na aprendizagem. Poderá dizer-se, no estado actual das investigações neste domínio, que o acompanhamento dos pais junto de crianças muito jovens, manipulando dispositivos com ecrã, constitui não só um factor inibidor da aquisição de disposições desfavoráveis mas, também, um potenciador de disposições favoráveis. 
freiremr98@gmail.com

 

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