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Pais em Tempos de Crises: Ter ou não ter filhos

Mário Freire - 19/08/2021 - 8:53

Recorrendo ao estudo já nesta coluna mencionado – “Nascer em Portugal” – feito pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, a partir de dados do Instituto Nacional de Estatística, verifica-se que dos elementos recolhidos da população em idade fértil, 62% têm filhos. Destes, 47% não tencionam ter mais filhos. Relativamente à mesma população, mas que não tem filhos, observou-se que 8% não tem filhos nem quer tê-los e que 29% não tem filhos, mas quer tê-los.

A pergunta está feita no estudo em referência: “mas, afinal, o que é que motiva a decisão e a vontade de não ter filhos ou, para os que já têm, não ter mais filhos?” A resposta é dada, considerando três tipos de razões: económicas, laborais e pessoais.

Os aspectos financeiros associados às crianças são a causa mais importante, apontada por cerca de 67% das pessoas que não têm filhos, não havendo diferenças significativas nas respostas dadas por homens e mulheres. Aparece, depois, como causa importante para não ter filhos, a dificuldade em se conseguir um emprego que dê estabilidade. Finalmente, o estudo refere os motivos pessoais os quais se traduziriam por os filhos implicarem novas e não pequenas responsabilidades e “o facto de sobrar menos tempo para outras coisas importantes na vida:”

Há um outro grande factor que, talvez, seja transversal a todos os já enunciados e que, não sendo directamente referido, se encontra subliminarmente no estudo. Quando neste se diz que “se o casamento perdeu o seu papel muito decisivo como marca de entrada na parentalidade, actualmente a coabitação dos pais como condição prévia para se ter filhos também parece perder a relevância que outrora já teve. Os novos conceitos de família incluem também, de forma crescente, casais que, embora tendo uma relação, não partilham a mesma casa, independentemente de terem ou não filhos em comum.”

A precariedade dos vínculos afectivos, nos dias de hoje, manifesta-se mais facilmente do que há alguns tempos, relativamente recentes. Esta manifestação é acompanhada, em regra, da passagem do relacionamento superficial à relação íntima. Saltam-se etapas que seriam fundamentais para criar vínculos estáveis, como sejam o conhecimento mútuo, a capacidade de separar o essencial do acessório e a construção de uma afectividade que pudesse ultrapassar as frustrações transitórias. Vínculos estáveis são fundamentais para a assunção de uma parentalidade desejável e responsável. Não admira, pois, que esta precariedade afectiva e aquilo que lhe é agregado, a juntar às outras causas atrás enunciadas, sejam propiciadoras da falta de nascimentos. 

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