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Partiu o poeta da esperança

João Carrega - 08/03/2023 - 12:28

António Salvado faleceu este domingo, aos 87 anos. O seu desaparecimento significa uma grande perda para a cultura portuguesa e iberoamericana.

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O poeta albicastrense António Salvado faleceu, dia 5 de março, no Hospital Amato Lusitano, em Castelo Branco. O seu desaparecimento significa uma grande perda para a cultura portuguesa e iberoamericana e levou a Câmara da sua cidade a decretar dois dias de luto municipal.

Natural de Castelo Branco, onde nasceu há 87 anos na Rua D’ega (tendo doado à autarquia a sua casa para ali ser criado um centro interpretativo da sua obra e de apoio aos jovens escritores de poesia), foi um dos poetas portugueses com mais obras editadas, com tradução em várias línguas.

António Salvado começou por apresentar publicamente os seus primeiros trabalhos no Semanário Reconquista, então com 13 anos de idade. “Foi um poeta da esperança, da luz, mas também do futuro, da natureza, do amor, da geografia”, refere Maria de Lurdes Gouveia da Costa Barata, docente do ensino superior, uma das pessoas que melhor conhece o trabalho de António Salvado e que no ano passado lançou o livro “António Salvado - Contributos para um estudo da sua poesia”. A professora acrescenta: “as palavras poéticas de António Salvado eternizam o sentimento que traz a humanidade. Por isso, a presença de António Salvado é perene, preenchendo uma ausência física, usufruindo nós a sua companhia para sempre”.

Para além de poeta, foi ensaísta, antologista (da poesia religiosa e da poesia de mulheres poetas portuguesas), tradutor (principalmente de poetas espanhóis e latino-americanos), organizador de edições de autores portugueses (João Roiz de Castelo Branco, Frei Luís de Sousa, Frei Manuel da Rocha, Luís Osório, entre outros escritores), e diretor de publicações culturais.

As palavras de pesar pela sua morte também foram escritas em várias línguas. Alfredo Pérez Alencart, professor na Universidade de Salamanca e presidente do júri do Prémio Internacional de Poesia Cidade de Castelo Branco, a quem António Salvado emprestou o seu nome, recorda-o como “um poeta notável, sempre discreto, humilde na sua mestria”.

António Lourenço Marques, médico, na sua página pessoal de facebook, diz: “poeta incomparável, deixa-nos, para a eternidade, o seu canto (sublime) das palavras”, recordando a caminhada que fizeram juntos, desde 1989, nas Jornadas de História da Medicina, que comemoram Amato Lusitano, em Castelo Branco, de quem diz “ter sido a verdadeira força” do evento. José Dias Pires dedica-lhe uma carta, onde revela que “o amigo-irmão foi para o lugar onde mora a poesia.

O Politécnico de Castelo Branco, recorda, para além do poeta, o professor da Escola Superior de Educação que com “fulgor e paixão acompanhou os seus alunos nas letras e nas artes a estes ensinando, mas com os mesmos aprendendo a conviver”. Mário Raposo, reitor da Universidade da Beira Interior (academia que lhe atribuiu o título de Doutor Honoris Causa), lamenta "a perda de um vulto da cultura da nossa região, que alcançou reconhecimento nacional e internacional, e muito contribuiu para o prestígio e engrandecimento do nosso País".

De entre os muitos reconhecimentos que a sua obra (literária e cultural) mereceu, em Portugal e no estrangeiro, destacam-se a Comenda da Ordem Militar de Santiago da Espada (Presidência da República); a Medalha de Mérito Cultural do Ministério da Cultura de Portugal; e a Medalha de Ouro da Câmara Municipal de Castelo Branco, para além de muitos prémios nacionais e internacionais (sobretudo em Espanha e no Brasil). Em 2010 foi homenageado no XIII «Encuentro de Poetas Ibero-Americanos».

Castelo Branco também o distinguiu através de um encontro de internacional que coincidiu com a publicação de dois volumes do livro "Extenso Continente", onde foram publicados poemas escritos por mais de 200 poetas de vários pontos do mundo.

O seu nome está também ligado ao Prémio Internacional de Poesia António Salvado - Cidade de Castelo Branco, promovido pela Junta de Freguesia e Câmara albicastrenses cuja última edição foi ganha pelos escritores José Jorge Letria e Ramón Garcia Mateos.

As notas de pesar foram-nos enviadas por diferentes entidades, como a Câmara do Fundão, a Sociedade dos Amigos de Museu Franciso Tavares ou a Comissão Concelhia do PS de Castelo Branco.

À família e aos amigos, o Reconquista endereça sentidas condolências.

 

Autarquia decreta luto municipal

 

O presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco decretou dois dias de luto municipal pelo falecimento do poeta albicastrense António Salvado.

Nos dias 7 e 8 de março a bandeira do Município esteve a meia haste no edifício dos Paços do Concelho. De acordo com o despacho (que será ratificado na próxima reunião de Câmara), a que tivemos acesso, Leopoldo Rodrigues lembra que “o nome de António Salvado e a sua obra vão decerto permanecer na memória de todos albicastrenses, através do seu legado poético, em particular, e pelo acervo bibliográfico e documental que legou à Cidade de Castelo Branco, o qual será património da futura Casa António Salvado”.

O autarca adianta que António Salvado é uma “figura de relevo na cultura albicastrense, mas também a nível regional e nacional. É considerado um dos maiores poetas portugueses da contemporaneidade, com uma obra poética que se estende por mais de 100 títulos publicados, a qual tem sido reconhecida em Portugal e no estrangeiro, sobretudo em Salamanca, em cuja universidade titula uma cátedra. Foi também tradutor de poetas castelhanos e latino-americanos”.

Leopoldo Rodrigues diz que foi “com profundo pesar e consternação que tomamos conhecimento do seu falecimento”. O autarca lembra que o “seu nome atingiu maior amplitude através do Prémio Internacional de Poesia António Salvado/Cidade de Castelo Branco, que cumpre este ano a sua terceira edição, e tem suscitado elevada e qualificada adesão por parte de poetas de renome, nacionais e espano-latino americanos”.

O presidente do Município considera que “além do ofício poético, António Salvado é autor de um considerável registo de textos em prosa, sejam de carácter biográfico ou recensório de autores conhecidos, mas também de ordem ensaística”, e recorda o seu percurso enquanto professor e diretor do Museu Francisco Tavares Proença Júnior.

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