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Leitores: Pela ambição é que vamos

José Sanches Pires - 19/04/2018 - 14:44

Um eloquente poema de Sebastião da Gama diz: “Pelo sonho é que vamos… Haja frutos ou não haja frutos, pelo sonho é que vamos”.

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José Sanches Pires. Arquivo Reconquista

Um eloquente poema de Sebastião da Gama diz: “Pelo sonho é que vamos… Haja frutos ou não haja frutos, pelo sonho é que vamos”. E, de facto, não devemos ir apenas quando estejam subjacentes usufrutos pessoais, mas sim quando esse sonho possa representar felicidade para a sociedade. Porém, e cada vez mais, em várias áreas, por cá, como lá fora, muitos, embora afirmando ir pelo sonho, acabam ofuscados pela ambição e mais não fazem do que ir apenas pelos frutos. Como afirmou, um dia, Charles Caleb Colton: “A ambição comete, em relação ao poder, o mesmo erro que a ganância em relação à riqueza: começa a acumulá-la como meio de felicidade e acaba a acumulá-la como objetivo”. 
Acredito que, sobretudo no âmbito da política, muitos começarão com as melhores das intenções e, assim, a ambição para além de legítima é também louvável, pois o propósito é fazer os outros felizes. Porém, com o tempo, essa ambição natural, depressa se transforma em ambição desmedida e, quanto mais a ambição aumenta, mais a sua natureza louvável se vai transfigurando num desejo de mais e mais ganância. E é esta ambição transformada em ganancia que faz com que se perca a clarividência e a essência daquela que foi, inicialmente, uma ambição louvável.  Quando o ganancioso atinge um determinado patamar quer, sempre, atingir o degrau seguinte e assim sucessivamente, perdendo a noção dos limites. Perde-se a razão e a racionalidade! Como disse, um dia, Alfredo Ananias Leonel Silva: “Inteligente é o homem que sabe valorizar o que tem, sem perder a ambição e sem adquirir a ganancia”. Ora aquele que vai de ambição em ambição, até atingir o grau de ganancioso, só prova que a sua inteligência nunca existiu e as suas atitudes mais não eram do que um mero exercício de retórica. 
De facto e comprovadamente, para o ambicioso sem limites, o bom êxito dos seus propósitos desculpam a ilegitimidade dos meios para os atingir (Jean Massillon). O ganancioso não se satisfaz com os proventos das suas reformas, mesmo que estas estejam acrescidas de uma série de outros rendimentos, obtidos na ocupação de uma multiplicidade de outros cargos. E, como se isto não lhe chegasse, a desfaçatez é de tal ordem que se chegam a comercializar produtos oferecidos, com o único intuito de aumentar o, já de si, alargado pecúlio. 
Quem vai pelo sonho faria a doação, do que tem em excesso, a instituições de caridade ou a pessoas carenciadas; mas quem vai pela ambição prefere fazer negócio com essas oferendas! Quem assim procede arrisca-se a que lhe aconteça o que preconiza Izzo Rocha: “O egoísmo, a ganância, a ambição, a ingratidão, a infidelidade e a falta de humildade, de lealdade e de justiça serão os seus próprios algozes”. E, assim, os modelos, mesmo que medalhados, mais cedo ou mais tarde, acabam por tombar do pedestal!    
Por norma, associado à ambição sem limites, está associada uma personalidade de cariz populista e pouco modesta. Estas duas características da personalidade acabam por agir sinergicamente, acabando por metamorfosear um simples ambicioso, num tremendo ganancioso. A vaidade é, claramente, um fator que atua ofuscando a mente, e as manifestações populistas persuadem o vaidoso da sua inimputabilidade e da sua insuspeição. Ora isto vem dar razão a Oliver Goldsmith quando escreveu que: “A adulação liga-se sempre à ambição, porque é de todas as paixões aquela a que a lisonja dá mais prazer”. 
jsanchespires@gmail.com  

COMENTÁRIOS

Dias de Carvalho
à muito tempo atrás
Parabéns, Sanches Pires, pelo seu artigo. Em tudo é necessário o equilíbrio e muitos perdem-no facilmente. Um abraço.

Xavier pires
à muito tempo atrás
È o meu padrinho, que honra.