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Leitores: Política. A verdadeira censura é nas urnas

Nuno Ezequiel Pais - 12/10/2023 - 10:06

Para além das eleições na Madeira, o assunto que mais ocupou a política portuguesa na última semana foi o da moção de censura que o partido Chega apresentou na Assembleia da República, visando o governo do PS.

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Para além das eleições na Madeira, o assunto que mais ocupou a política portuguesa na última semana foi o da moção de censura que o partido Chega apresentou na Assembleia da República, visando o governo do PS. 
Todos sabiam que a moção seria chumbada. A afinada orquestra da maioria PS nunca deixaria passar essa desafinação parlamentar. Porém, duas ideias se instalaram em Portugal. 
A primeira foi: “é o Chega quem faz mais oposição ao PS”. Se pensarmos bem e puxarmos pela memória, facilmente desmontamos esta ideia. 
Desde logo, é natural que o Chega tenha atitudes que os outros partidos da direita e centro-direita não podem acompanhar. É que o Chega é populista. No fundo, tem muitas semelhanças com um “Bloco de Esquerda da direita”. Ou seja, é um partido de contestação e não de construção. E bem sabemos que os partidos de contestação só se mantêm vivos se demonstrarem um elevado grau de irreverência, tanto no discurso como nos números mediáticos. 
Quando estava o PSD no governo, por vezes também parecia que o Bloco de Esquerda fazia mais oposição do que o PS - que não deixava de ser o maior partido da oposição. E essa sensação existia precisamente por causa de atitudes exuberantes, provocadoras e mesmo excessivas do Bloco. Tal como são (naturalmente) as do Chega. 
Neste caso, apresentar uma moção de censura a um governo com maioria absoluta é uma clara provocação. E os partidos moderados, adultos, como é o PSD, não podem embarcar em brincadeiras. 
A segunda ideia que se vem instalando diz que o Luís Montenegro não sabe como lidar com o Chega. Também considero um erro pensar-se assim. 
Vejamos bem, o Chega tem dois tipos de eleitorado: os “cheguistas” e os do “cartão amarelo”. Os primeiros são os que acreditam mesmo nas ideias do Chega. Pessoas que estão para além dos limites da democracia, da tolerância e até do respeito que todos nos devemos uns aos outros e às opções de cada um. 
Os do “cartão amarelo” são pessoas que usam o Chega para protesto ou falta de confiança na sua opção habitual. Dão um cartão amarelo aos partidos do centro e votam num partido de contestação. São pessoas que se arrependeriam de imediato se o Chega ganhasse por um voto. 
As pessoas da esquerda fazem habitualmente votos de protesto no Bloco (ou no PCP). As pessoas de direita antigamente usavam o CDS, hoje usam o Chega. 
Porém, quando a hora H se aproxima e o partido da sua área política tem um candidato que merece atenção ou que pode ganhar, então os do “cartão amarelo” não desperdiçam o voto com aventuras ou protestos. 
Luís Montenegro sabe isso. Sabe que ainda não chegou o momento de os portugueses fazerem a sua escolha nas legislativas. Sabe que estamos muito longe de termos de optar entre o PS e o PSD. E sabe que a distância entre PS e PSD é cada vez mais curta para que os que desejam a mudança desperdicem essa oportunidade com votos em partidos que submetem moções de censura inconsequentes. 
Sabendo tudo isso, Luís Montenegro dorme bem descansado com qualquer moção que nasça à sua direita. 

nuno.e.pais@gmail.com

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