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Proteção de Menores: Comissão Independente entregou relatório sobre abusos na Igreja à Conferência Episcopal

Ecclesia - 12/02/2023 - 20:28

Estudo, realizado a pedido da CEP, abrange últimos 70 anos e vai ser apresentado esta segunda-feira

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Relatório foi entregue pela comissão liderada por Pedro Strecht. Foto CEP

A Presidência da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) recebeu hoje o relatório da Comissão Independente (CI) para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica, elaborado a partir de testemunhos sobre casos ocorridos nos últimos 70 anos.

“Recebemos com profunda emoção e agradecimento o vosso relatório”, disse o presidente da CEP, D. José Ornelas, ao receber o documento, em formato digital, de Pedro Strecht, coordenador da CI.

A entrega decorreu numa sessão realizada na sede da Conferência Episcopal Portuguesa, com a presença da Presidência da CEP e dos membros da Comissão Independente.

D. José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima, disse que o relatório vai ser lido “com toda a atenção” para “fazer jus aos dramas que foram revelados” e à “seriedade” do trabalho desenvolvido pelos membros da CI e pelos investigadores que consultaram os arquivos históricos.

 

“Este trabalho em comum, com a independência de papéis e de competência num caminho comum ficará certamente ligado à história de todos nós, como património para continuar o caminho iniciado”, afirmou o presidente da CEP.

O responsável católico valorizou o trabalho “focalizado naqueles que são mais frágeis” e “a necessidade de unir esforços diferenciados para obter bons resultados, na capacidade de ultrapassar preconceitos e dificuldades”, em ordem a “uma Igreja e uma sociedade mais justas e capaz de oferecer a todos o direito a que têm de dignidade, de defesa da sua integridade”.

O bispo de Leiria-Fátima referiu-se ainda à Assembleia Extraordinária da CEP marcada para o início de março, para “assumir” os dados do relatório hoje entregue e “refletir sobre o seu significado”.

Estes trabalhos, acrescentou, vão ajudar a “decidir o melhor seguimento para fazer justiça” ao trabalho da CI e “sobretudo, ao sofrimento das vítimas que foram o primeiro eixo motor de todo este processo.

“Isso é o que como CEP entendemos como a missão que recebemos de Deus na sua Igreja e para o qual dais, com este relatório, um grande contributo”, afirmou D. José Ornelas.

O responsável sublinhou a “unanimidade a CEP” em confiar o estudo de casos de abuso na Igreja a uma Comissão Independente, para conhecer para “estudar a fenomenologia desta realidade” que preocupa “profundamente pela dor de quem sofreu” e pela “contradição que significa” em relação à “missão como igreja”.

Pedro Strecht, presidente da CI, agradeceu à CEP a “confiança” que foi depositada na comissão e a disponibilização dos “meios para que o trabalho fosse executado e prosseguisse sempre em total isenção e independência”.

“Todos esperamos que este trabalho dê frutos e possa constituir uma nova etapa dentro daquilo que mais desejamos que é o bem-estar as crianças e o conhecimento da própria Igreja daquilo que aconteceu de errado no passado e a perspetiva positiva da construção de um novo futuro”, afirmou o pedopsiquiatra, agradecendo também a todos os membros da Comissão Independente e ao grupo de investigação histórica.

A Conferência Episcopal Portuguesa decidiu criar, na Assembleia Plenária de novembro de 2021, uma comissão para estudar os casos de abuso sexual na Igreja Católica.

A CI foi apresentada publicamente no dia 10 de janeiro de 2022 e revelou, dez meses depois, ter validado até então 424 testemunhos, apontando para um “número significativo” de abusadores entre 1950 e 2022.

Esta segunda-feira, a Comissão Independente apresenta publicamente o relatório final sobre os casos de abuso sexual na Igreja Católica entre 1950 e 2022, entre 09h30 às 12h30, no Auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian.

No mesmo dia, partir das 16h00, o presidente e os membros do Conselho Permanente da CEP encontram-se com os jornalistas numa conferência de imprensa a realizar na Universidade Católica Portuguesa, no piso 1 do edifício da biblioteca da instituição académica, em Lisboa.

 

A CI tem como coordenador Pedro Strecht, médico de psiquiatria da infância e adolescência; entre vários trabalhos na área da pedopsiquiatria, foi supervisor do Projeto de Apoio à Família e à Criança Maltratada, coordenador da Equipa de Intervenção Psicossocial do Gabinete de Reconversão do Casal Ventoso, de Centros Educativos do Instituto de Reinserção Social e do Gabinete para Intervenção em Crise da Casa Pia de Lisboa.

A equipa integra ainda, Álvaro Laborinho Lúcio, juiz conselheiro jubilado do Supremo Tribunal de Justiça, antigo Ministro da Justiça; Ana Nunes de Almeida, socióloga e investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e presidente do respetivo Conselho Científico, que coordenou o estudo sobre ‘Maus Tratos a Crianças na Família’, encomendado pelo Parlamento, em 1999; Daniel Sampaio, psiquiatra, professor catedrático jubilado da Faculdade de Medicina de Lisboa; Filipa Tavares, assistente social e terapeuta familiar, que trabalhou cerca de 25 anos numa IPSS, ‘Casa da Praia/Centro Dr. João dos Santos’ com famílias disfuncionais e de risco; Catarina Vasconcelos, cineasta, licenciada na Faculdade de Belas Artes com pós-graduação em Antropologia Visual no ISCTE e mestrado no Royal College of Art, Londres.

 

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