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Rainha Dona Maria II (1819-1853). Uma vida fecunda e breve

Florentino Beirão - 24/06/2021 - 9:21

De passagem pela capital que, lentamente, começa a abrir as suas portas à cultura com várias exposições, optei pela que se encontra no neoclássico-barroco Palácio Nacional Nossa Senhora da Ajuda, não longe do Mosteiro manuelino dos Jerónimos. Tendo conhecimento de que neste espaço se encontrava uma exposição, relativa à vida e obra da Princesa brasileira e Rainha de Portugal D. Maria II, decidi fazer-lhe uma visita, curioso que estava por saber mais sobre esta tão desconhecida quão multifacetada monarca que governou Portugal, num período tão conturbado quão empolgante do séc. XIX, entre 1819-18539. As suas marcas ficaram registadas, nomeadamente, na aprovação da primeira Constituição Liberal, no arranque da construção do caminho- de- ferro que passou a ligar uma boa parte do país, nos selos dos correios, em nova legislação, em várias obras públicas e num substancial apoio às artes e à cultura, sobretudo com o Rei artista e consorte Fernando II, segundo marido de D. Maria II.
Logo à entrada do Palácio, deparei com os novos arranjos que ultimamente foram executados, tentando completar uma das partes inacabadas, devido à falta de verbas e à complexa situação gerada pela fuga da Corte para o Brasil, fugindo às tropas invasoras napoleónicas. Trata-se de uma obra moderna, bem inserida no primitivo conjunto arquitetónico, construído a partir de 1795, após o terramoto de Lisboa de 1755.
Quanto à exposição, “D. Maria II, de Princesa brasileira a Rainha de Portugal”, que abre com a maravilhosa coroa e com o cetro real, permanecerá aberta ao público ainda alguns meses. Toda ela se reporta à vida e obra desta monarca cuja vida, embora breve, foi muito fecunda, repleta de grandes reformas estruturais, como iremos referir, as quais abriram o caminho à modernidade do nosso país, deixando para trás o nosso longo período medieval.
D. Maria II, Maria da Glória Joana, o seu nome de batismo, é filha de D. Pedro I do Brasil e de Maria Leopoldina da Áustria e nasceu no Rio de Janeiro, em 04.04.de 1819.
Apenas com sete anos, o seu pai abdicou da coroa de Portugal e entregou-a à sua filha, na condição de ela vir a casar com o seu tio, o Infante D. Miguel. Como ele se encontrava em Viena de Áustria, D. Maria embarcou do Rio de Janeiro em 05.07.1828, para ir viver para esta cidade imperial. Depois de se ter malogrado o prometido casamento com D. Miguel que, entretanto se proclamara Rei absoluto de Portugal, casou com Augusto de Leuchrtenberg em 1835,o qual faleceu pouco tempo depois de chegar a Portugal. De seguida, a Rainha contraiu segundas núpcias em 1836, com o príncipe Fernando de Saxe-Gota. Entretanto D. Maria decidiu deixar Viena e rumou à Inglaterra, França e Holanda. Aqui foi tomando contacto com os grandes avanços industriais e culturais destes países. Reinando durante poucos anos, a sua vida desenrolou-se num período de grandes convulsões socio -políticas, económicas e culturais do país. Herdando um sistema medieval arcaico, soube sempre rodear-se de vários ministros de grande craveira, com ideias modernas, bebidas nos países europeus, os quais foram contribuindo para o desenvolvimento dos diversos sectores da governação, sempre na defesa da Constituição Liberal.
A fortíssima personalidade de D. Maria II, mulher muito viajada pela Europa, sabia bem o que queria para o desenvolvimento de Portugal. Assim, permitiu que as ideias modernas que tinha bem consolidadas no seu pensamento, fossem concretizadas, apesar dos escolhos que foi encontrando pelo caminho, aos quais sempre foi resistindo e ultrapassando, ao longo do seu curto reinado. Recordemos apenas o dramático e sangrento cerco do Porto, a Revolução de Setembro, a Belènzada, as Revolta dos Marechais e da Maria da Fonte e ainda a Patuleia que tanto agitou o norte do país, devido à questão dos cemitérios, transferidos para fora das igrejas.
Do seu casamento com D. Fernando II, D. Maria II teve 11 filhos, mas nem todos sobreviveram. Do último parto, apesar dos meios ao seu dispor, acabou por falecer, juntamente com o seu filho. Nesta altura, em 1853, a Rainha tinha apenas 34 anos de idade. A sua última morada encontra-se no Panteão Real da dinastia dos Braganças, no Mosteiro de S. Vicente de Fora, em Lisboa. Como herança, deixou um país mais moderno e desenvolvido, pacificado politicamente. Uma vida, apesar de breve e agitada, muito fecunda, ao serviço do Reino.

florentinobeirao@hotmail.com
 

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