Retratos: Liberdade

JC - 29/04/2021 - 9:21

Jeremias, presidente da Brigada do Reumático, colocou o cravo na lapela e saiu à rua num dia assim… chuvoso mas de liberdade. -“Ainda me lembro da tomada da Kapital e da coluna ter parado num semáforo vermelho”, explicava ao neto mais novo. A comemoração do 25 de Abril ainda mexe muito com a cabeça de Jeremias, que jovem, sem saber o que era a vida, foi enviado para as selvas do Tramado, na África Amiga.
-“Vivo o 25 de Abril como algo de libertador e em memória dos meus camaradas que foram obrigados a partir para uma guerra que faz parte da história da Nação Lusitana. Infelizmente, o nosso país nunca foi justo com todos aqueles que como eu foram enviados para cenários de terror e desconhecidos. Nunca houve recompensa, houve sim abandono. E nisso o 25 de Abril falhou”, retorquiu Godofredo, secretário geral da BR, que como Jeremias, também ele foi à guerra e voltou diferente, porque quem vai guerra e regressa, já não vem igual.
-“Ainda assim, a liberdade e a democracia permitiram que nos tornássemos um país diferente, aberto ao mundo, qualificado, e atrativo”, disse Evaristo, que sendo um pouco mais novo já não partiu para  a África Amiga. 
-“Tive sorte. Ia embarcar três dias depois. Mas deu-se a revolução e já não fomos. Foi uma alegria, que meses mais tarde foi contratada com uma tristeza do tamanho do mundo, quando os meus tios e primos regressaram à Nação Lusitana sem nada, deixando toda a sua vida para trás. Tiveram que começar do zero e também aí as coisas poderiam ter sido diferentes. Mas a liberdade alcançada permitiu um novo recomeço, a pulso, e nem sempre bem percebido por aqueles que nunca de cá tinham saído”, acrescentou Evaristo.
-“Oh avô eu cá não quero ir para guerra nenhuma!”, disse Bequinhas, depois de ouvir, com atenção, a conversa dos mais velhos, com a certeza de que Abril trouxe também liberdade de escolhas e de opiniões. -“Eu cá quero é um cravo, para ser grande como vocês”, concluiu o mais novo da família…

JC