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Senhora de Mércoles: Não há amor como o amor de mãe

Lídia Barata - 17/04/2024 - 8:00

Tal como nas bodas de Caná, na Galileia, são os “servos invisíveis e anónimos” que preparam a festa, seguindo a ordem: “fazei o que ele disser”.

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O final das cerimónias é sempre um momento emotivo

O olhar e o amor de mãe deram mote à homilia proferida esta terça-feira, dia 16 de abril, pelo padre Nuno Folgado, que presidiu à principal celebração da Senhora de Mércoles, em Castelo Branco.

O sacerdote confessou que continua a deixar-se seduzir pela passagem do evangelho que relata aquele que ficou conhecido como o primeiro milagre de Jesus, nas Bodas de Caná, em que transformou a água em vinho, para que a festa não terminasse. E explicou o que este evangelho tem de tão sedutor. “É o evangelho das festas e da alegria, das graças e da gratuitidade”, afirma, fazendo o paralelo entre aquela festa, que foi programada por alguém, com a romaria da Senhora de Mércoles. “Quantos trabalharam arduamente para que tudo estivesse como devia estar? Muitos terão achado que era inoportuno, até desnecessário. Quantos terão desistido à última hora porque estava calor ou estavam indispostos? Muitos terão torcido para que não corresse bem, mas quantos se dispuseram a usufruir sem contribuir ou sem respeitar as motivações daquela festa?”, questiona, reiterando que “há tanto em comum entre aquela festa e esta, tanto em comum entre nós e eles”.

Mas o principal elo de ligação entre os dois acontecimentos é Maria. “Lá, como aqui, estava a mãe de Jesus. E lá como aqui, a mais discreta das presenças, foi a presença que fez a diferença. Ela não grita, não chama sobre si as atenções, mas chama a atenção daquele que tudo pode”, colocando tudo “ao serviço da festa”, tornando-se deste modo “coautora desta maravilha”. O padre Nuno Folgado recorda que “o amor de mãe não vê o que as outras pessoas veem no filho. Os seus olhos estão lavados com amor, por isso o seu olhar perscruta melhor o que ele pode dar”. E reitera que “não há olhos que vejam melhor que esses. Não significa que não vejam os erros e os defeitos, as limitações e as quedas, mas, para além disso, veem o que de bom há e pode haver”, defendendo que “todo o homem é, intrinsecamente, digno de amor em todos os momentos da sua existência”. A passagem litúrgica também “só nos pede que estendamos a mão para receber o denário do seu amor”.

Maria destaca-se por “pedir o que nós não sabemos pedir, com os olhos lavados de amor, o amor com que Deus a cobriu da sua sombra”. E esse é “o ponto de contacto entre este texto e este dia. Maria está a pedir a intervenção de Deus de modo a que a festa não acabe e até se torne melhor. Maria é a razão pela qual a festa não acaba, para aqueles para quem a festa é só o que se come e o que se bebe, quando cá voltassem ao fim de um ano encontravam só um silvado. São os que ouvem Maria dizer ‘fazei tudo o que ele disser’ que asseguram a festa”. Mas é também “nos devotos da Senhora de Mércoles que reside a razão de ser e a consistência desta festa”. E “são esses serventes, os últimos dos últimos, de que ninguém sabe o nome, anónimos para os poderosos de cada tempo”, a quem é dado “ajudar Jesus a fazer o milagre, a encher as bilhas de água e levá-las ao chefe da mesa, que elogia o vinho, mas nem lhe passa pela cabeça a quem deve agradecer”. Refere ainda que cabe a cada um decidir o caminho, “cada um escolhe o seu lugar, se quer estar entre os que passam ao lado, entre os que se pensam importantes, ou dos que querem ser coautores do milagre da redenção”.

Nesta festa, como na letra do evangelho, o sacerdote admite que “haverá os que saem dela sem saber o que de melhor aconteceu. E haverá os que se cruzam com a graça e se transformam à imagem da glória que se lhes revela” e “distinguiremos pelo olhar brilhante, mesmo que lavado com lágrimas, os que estando ao serviço de Nossa Senhora de Mércoles, nossa padroeira” que, tudo faz para “levar a festa a todos. Aquela festa que não tem ocaso, a festa do vinho melhor, a festa de sabermos que mesmo quando todos andarmos distraídos, a mãe, mãe de Deus e mãe nossa, a Senhora de Mércoles, velará para que não nos falte nada. E pedira para nós, ao Bom Pastor, o que nem sabemos que precisamos. E ele, para a ver feliz, a atenderá”.

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