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Sínodo: Igreja tenta adaptar o seu ADN aos novos tempos

Lídia Barata - 01/09/2022 - 8:00

Abrir-se à participação ativa da comunidade e adaptar-se aos tempos modernos são alguns desafios colocados à Igreja.

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O relatório aponta diversos pontos fracos que são urgentes corrigir

“Passar de uma Igreja exageradamente centrada na autoridade e ação do clero para uma Igreja sinodal e missionária, na comunhão e participação ativa de todos os seus membros” foi o desafio lançado pelo Papa Francisco a leigos, consagrados, diáconos, sacerdotes e bispos da Igreja Católica em todo o mundo que, através da auscultação e reflexão sobre a ação evangelizadora que têm vindo a desempenhar, tentaram responder, discernindo “o que se pretende para a Igreja do presente e do futuro, fazendo o levantamento de processos, métodos e meios que podem ajudar a alcançar este objetivo.

Nesta avaliação profunda que a Santa Sé pediu e está a ser feita através deste Sínodo que iniciou em 2021 e vai até 2023, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) avançou com o relatório nacional, que “aponta caminhos para valorizar o que deve ser valorizado e corrigir o que tiver de ser corrigido”, mas a participação, reconhece, ficou aquém do esperado, sobretudo por parte dos jovens. E os contributos recolhidos foram muito centrados nas realidades diocesanas, “em parte devido a uma débil estratégia de divulgação, enfraquecida pela incapacidade de simplificar a explicação sobre a relevância e a dinâmica da consulta sinodal”.

Dos contributos recolhidos, realça que “as diferentes comunidades diocesanas acreditam que a participação, corresponsabilidade e sinodalidade não são ainda efetivamente praticadas na Igreja”. Esta visão é justificada com uma Igreja “espiritual e humanamente pouco inclusiva e acolhedora, discriminando quem não está integrado ou não vive de acordo com a moral cristã, ou colocando em segundo plano as pessoas com deficiência, os mais pobres, os marginalizados e, consequentemente, desprotegidos, privilegiando atitudes assistencialistas nas situações de pobreza e institucionalização nos grupos mais vulneráveis”, ou “pouco atenta aos ritmos e desafios da sociedade, até do ponto de vista funcional, revelando horários de funcionamento desajustados, sobrepostos e pouco convidativos a uma verdadeira participação”, com “templos fechados, horários de missas sobrepostos e atividades simultâneas dentro da mesma comunidade, impedindo a participação de todos mesmo quando ela é desejada”. Ainda assim, entre um vasto rol de pontos fracos apontado “a Igreja é tida globalmente como uma instituição credível, presente nos locais onde ninguém ousa ir e solidária com os mais desfavorecidos, a quem presta assistência, mesmo quando falham todas as outras respostas sociais”.

 

PROPOSTAS Quanto às mudanças propostas “destaca-se o papel relevante nas áreas da educação, saúde e apoio à terceira idade, e a sua presença humanizadora nos momentos mais difíceis na vida de um indivíduo, acompanhando-o no luto e gestão da dor”. Reconheceu-se também que, “ao assumir e corrigir os erros do passado, como no caso dos abusos de menores, a Igreja continua a ser uma referência positiva no seio da sociedade. A celebração dos sacramentos com dignidade é também um traço acarinhado pelos participantes, assim como o magistério do Papa Francisco, que é recebido com alegria e esperança dentro das comunidades”.

Os cristãos auscultados e que deram os seus contributos querem “uma Igreja que seja uma família, disposta a caminhar em conjunto, quer ao nível paroquial, quer como Igreja universal”. Pedem “maior rotatividade dos presbíteros ao serviço das comunidades e na assunção de responsabilidades”, libertando “os párocos de trabalho burocrático e da administração de instituições e serviços, potencializando as estruturas diocesanas e propondo o envolvimento de leigos capazes de os substituir nestas funções, para que o seu foco principal seja a sua missão pastoral e o encontro próximo com a sua comunidade”.

A formação de leitos e sacerdotes; a renovação da forma de comunicar para alcançar a todos; uma revisão da forma como se celebra; refletir sobre o celibato sacerdotal, para que seja opcional; valorizar o papel da mulher nas estruturas do poder eclesial; ou harmonizar critérios e regras comuns para a pastoral e sacramentos foram outras das propostas apresentadas, além da “importância de se consolidar a consciência sinodal, dando continuidade a esta dinâmica de caminhada conjunta, com linhas pastorais programáticas suscitadas pela CEP para toda a Igreja em Portugal, programa este delineado a partir da escuta das dioceses que, por sua vez, escutam as suas comunidades, refletindo e concretizando as propostas de mudança apresentadas, numa perspetiva de caminho conjunto criativo à escuta do Espírito Santo”, porque “o mundo precisa de uma ‘Igreja em saída’, que rejeite a divisão entre crentes e não crentes, que olhe para a humanidade e lhe ofereça mais do que uma doutrina ou uma estratégia, uma experiência de salvação, um ‘golpe de dom’ que atenda ao grito da humanidade e da natureza”.

COMENTÁRIOS

Amélia
à muito tempo atrás
Boa reflexão! Falta o passar verdadeiramente à prática e deixar que os cristãos participem com a sua singularidade na vida da Comunidade.