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Testemunhos: Beber, fumar, noite… não é vida de atleta!

Artur Jorge - 07/12/2023 - 10:34

Atletas de várias nacionalidades que estão em Castelo Branco relatam como foram acolhidos, do que se privam e o que fazem por um sonho. Lamine Bá aborda a relação atleta/Ramadão.

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Atletas de vários países que estão em Castelo Branco relataram as suas experiências

“Beber, fumar, noitadas… Se quiseres fazer uma carreira no desporto tens que te privar. Se queres singrar, tens de cuidar do teu corpo. E da mente!”. As palavras são do defesa internacional guineense Lamina Bá, que representa o BC Branco, e foram produzidas no âmbito das Jornadas Desportivas Multiculturais da ALAD-Amato Lusitano, Associação de Desenvolvimento.

O futebolista que esteve nas ligas profissionais com o Desportivo de Chaves confessa que apenas a língua constituiu entrave quando chegou a Portugal em 2011. Nunca sentiu, diretamente, manifestações de racismo, o mesmo já não podendo dizer em relação às práticas religiosas. Lamine Bá, de 29 anos, é muçulmano e cumpre o Ramadão. Quando estava na rampa de afirmação no profissionalismo, no emblema flaviense, confessa que foi colocado – passe a expressão – entre a espada e a parede: “Um treinador disse-me que tinha de escolher. Cumprir o Ramadão ou jogar àquele nível. Tinha 19 anos! Era titular no Chaves… Liguei à minha mãe a perguntar o que fazer? Que eu é que tinha de decidir! Deixei de fazer ao sábado. Fazia durante a semana. Psicologicamente, marcou-me muito. Não queria deixar de cumprir”.

Vitor Marafão, presidente do BC Branco, compreende a angústia do atleta. “Às vezes, os resultados mandam mais. Mas é importante não chocar com as ideologias. Porque os portugueses quando vão para países com outras orientações também se têm de adaptar”. Como profissional da saúde, não tem dúvidas que é difícil gerir as exigências físicas com o jejum muçulmano – não comer nem beber entre o nascer e o pôr-do-sol – sobretudo ao nível da hidratação.

O dirigente e enfermeiro reiterou a ideia de que uma prática desportiva de competição é incompatível com uma vida social “desregrada”. “É preciso perceber o que se quer na vida! Repouso e alimentação são os elementos mais importante no rendimento”. Caso contrário, “o corpo irá manifestar-se com lesões, fadiga…”.

Igualdade, interculturalidade, tolerância no desporto. Pressupostos complementares que a ALAD, através do projeto Inter(Agir) liderado por Carla Dias, trouxe à ação no final da última semana no auditório da Biblioteca de Castelo Branco. A Associação de Basquetebol Albicastrense (ABA) é, também a este nível, um exemplo de agregação multicultural. O jovem moçambicano Uwami Chongo, que chegou no último defeso a Castelo Branco para jogar e estudar, deixou um testemunho de total aceitação. “Castelo Branco é uma cidade simpática, de pessoas acolhedoras. Não senti a mínima manifestação de racismo”. Já o colega basquetebolista Manuel Fortuna, angolano, partilha do mesmo diapasão. Já trabalha na cidade e corre pelo sonho do basquetebol: “O desporto traz-me objetivos e responsabilidade”, considerou. Para o ucraniano Dmitro, o jovem migrante da ABA há mais tempo em Castelo Branco, com um bom percurso académico, “é importante não apostar tudo só no desporto”, recordando a lesão do irmão que acabou por o impedir de projetar a carreira.

“O desporto é uma escola de interculturalidade, que deve servir de exemplo para as outras áreas”, realçou o presidente da Amato Lusitano, Arnaldo Brás. Por exemplo, em Alcains, no CDA, 15 por cento dos jovens da academia de futebol são brasileiros e cabo-verdianos. “Primeiro percebemos quem estamos a receber. Pessoas que vêm por bem! E se vêm por bem, cabe-nos fazer tudo para as integrar”, pontuou Ivo Ferreira, coordenador do espaço de formação do clube alcainense.

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