Este site utiliza cookies. Ao continuar a navegar no nosso website está a consentir a utilização de cookies. Saiba mais

Verão: A Silly Season na Europa e os incêndios em Portugal

Luís Beato Nunes - 18/08/2016 - 9:59

A Silly Season é um período associado a alguns meses durante o Verão caraterizado pela publicação de notícias estranhas. Este termo foi cunhado em 1861 pela Saturday Review, sendo a parte do ano em que o Parlamento, os Tribunais e a maioria dos serviços públicos encerram para férias.
Em Alemão este período é conhecido como o Sommerloch (“buraco de verão”) e em Francês é conhecido como la Morte-Saison (“estação morta”). Já em Espanha o termo serpiente de verano (“serpente de verão”) é frequentemente utilizado para descrever o tipo de notícias estranhas desta época, como as referências à criatura de Loch Ness, na Escócia.
Normalmente, a segunda metade do Verão é desinteressante em termos de eventos jornalísticos. Ora, como os jornais dependem de várias receitas, como as de publicidade, as quais variam consoante o número de leitores, o mês de Agosto é prolífico em notícias sensacionalistas e estranhas para espicaçar um mercado “adormecido”. 
Infelizmente, a Silly Season em Portugal tem-se tornado hábito nas últimas décadas ser um período em que apenas lemos, ouvimos ou vemos notícias sobre incêndios e sobre a destruição causada pelas chamas incontroláveis que reduzem a cinza vidas inteiras e sonhos promissores.
Os bravos bombeiros são os heróis e protagonistas durante os meses de Julho e Agosto, arriscando a sua própria vida para travar a destruição trazida pelo fogo ameaçador. São eles que todos os anos respondem incansavelmente à urgência de apagar os fogos que outros não souberam evitar.  
Contudo, para o leitor ou espectador impotente deste cenário infernal o que mais custa é a passividade com que todos os anos se aceita o drama dos incêndios, como se fosse expectável que durante Julho e Agosto o país tenha que arder.
Desde os anos terríveis de 2003 e 2005, em que a área ardida superou o milhão de hectares, que os responsáveis políticos procuram resolver este problema, investindo em mais meios ao serviço dos bombeiros e em medidas pontuais de prevenção.
No entanto, a incidência deste flagelo nacional continua presente todos os Verões, preenchendo horas de noticiários e várias páginas de jornais, sem que soluções sérias sejam discutidas para prevenir o cenário lamentavelmente previsível de todos os meses de Julho e Agosto.
Na verdade, as soluções até são discutidas, sobretudo quando as consequências dantescas ainda queimam a memória dos que têm algum poder de decisão, mas a implementação de medidas concretas continua engavetada nas secretárias de algum ilustre político que há muito devia estar atento para evitar esta rotina desnecessária do Verão. 
A reorganização da floresta nacional, a alteração da legislação para permitir as expropriações de terrenos não cuidados ou abandonados, a mobilização do exército para a limpeza da floresta pública nos meses que antecedem o Verão, a criação de uma cooperativa para a gestão da floresta nacional, enfim ideias não faltam e todas elas têm o seu mérito e as suas vantagens, mas muitos poucas são implementadas.
É com tristeza e impotência que todos os Verões a Silly Season do resto da Europa coincide com a época dos fogos em Portugal, uma época de destruição que todos os Verões se repete para desespero dos heróis, os bombeiros, e dos amantes das paisagens florestais que a cada ano assistem a milhares de hectares destruídos. 
luis.beato.nunes@gmail.com

COMENTÁRIOS