Este site utiliza cookies. Ao continuar a navegar no nosso website está a consentir a utilização de cookies. Saiba mais

Politécnico: Valter Lemos é candidato a presidente

João Carrega - 26/10/2017 - 14:20

Valter Lemos acaba de anunciar a sua candidatura ao cargo de presidente do Instituto Politécnico de Castelo Branco. As eleições decorrem no início de 2018.

Partilhar:

Valter Lemos já presidiu à instituição. Foto arquivo Reconquista

Valter Lemos é candidato à presidência do Instituto Politécnico de Castelo Branco. O anúncio desta candidatura a uma casa que conhece bem e de que foi seu presidente de 1996 a 2005, foi feito ao Reconquista esta semana. Os desafios que se colocam à instituição são, no seu entender, muitos. As dificuldades e as ameaças também. Por isso, diz, não podia ficar indiferente. A eleição do presidente do Politécnico é feita pelo Conselho Geral da instituição. Um ato que deverá ocorrer no início do próximo ano. Secretário de Estado em dois governos, Valter Lemos foi o primeiro a anunciar a sua candidatura.

A decisão foi tomada tendo em conta os desafios e as ameaças que a instituição enfrenta no futuro. “Depois de ter exercido esses cargos, não me sentia tranquilo estando na instituição, conhecendo as suas dificuldades e problemas, fazendo de conta que não os percebia ou que não eles não existem. Dentro do instituto tenho uma experiência maior do que os meus colegas, mas isso traz-me mais responsabilidade. E é precisamente por isso que não me poderia furtar a essa circunstância. Sou, provavelmente, a pessoa com maiores responsabilidades do ponto de vista das competências desenvolvidas. E não estaria bem comigo próprio se dissesse que tudo isto não tinha a ver comigo. Esta é a minha instituição, trabalho aqui todos os dias. Do ponto de vista interno haverá pessoas que conhecem tão bem como eu a instituição, mas melhor não há. Do ponto de vista das componentes externas tive a possibilidade de conhecer outras dimensões, que me traz acréscimo de conhecimento, mas acima de tudo de responsabilidade, quando reflito sobre o Politécnico”.

O docente e atual presidente do Conselho Técnico-Científico da Escola Superior de Educação (ESE) explica que “não podia deixar de responder às centenas de solicitações, dentro do instituto e na cidade, para me candidatar. O Politécnico é uma instituição que tem uma dimensão que importa à vida das pessoas e da região. E as pessoas têm o direito e o dever de dar a sua opinião. Isso significa que os cidadãos compreendem a importância do IPCB”.

Para Valter Lemos, “nestas instituições o mais importante não é presidir, nem representar ou mandar. O mais importante é liderar, isto é, conseguir canalizar as melhores energias e projetos, organizar as melhores parcerias, aproveitando sempre o melhor que existe, pois numa instituição como esta ideias não faltam, pois tem gente muito qualificada”.

Do tempo em que liderou a instituição destaca o crescimento que o Politécnico teve. “Os tempos eram outros, em que se conseguiu fazer crescer muito a instituição. O IPCB é muito daquilo que foi feito nessa altura e anteriormente. A geometria do Politécnico foi desenhada nessa altura, com as suas seis escolas. Mas hoje os tempos são diferentes, são muito difíceis e isso só nos deve dar mais motivação”.

Valter Lemos diz que “neste momento há uma crise no ensino superior do interior do país”, a qual pode ser dividida em dois níveis: “há uma maior desigualdade entre o litoral e o interior; e acentuou-se também a desigualdade entre as universidades e os politécnicos”. O professor coordenador do Politécnico explica que “a expetativa de que Bolonha diminuísse essa desigualdade não se cumpriu, pois houve uma redução da procura no ensino superior, a qual não foi devidamente regulada tendo em conta a coesão territorial. Isso permitiu que as instituições mais fortes expandissem a sua oferta em função de si próprias, e as pequenas ficassem mais fracas. As desigualdades são maiores, pelos que os desafios são grandes. Do ponto de vista estrutural esta é uma situação complicada para as instituições de ensino superior do interior, tendo em conta que a demografia é uma espada muito grande que está por cima das instituições do interior do país”.

Valter Lemos explica que “os estudos demonstram que até 2030 haverá menos alunos no ensino superior. Até mesmo nos cenários mais otimistas isso sucede. O que acontece é que, em média essa diminuição será de 2,5% ao ano. Se pensarmos que estamos a falar num horizonte de 12 anos, significa uma perda de um terço dos alunos. Mas a manter-se a desigualdade entre o litoral e o interior, as instituições do interior, mais os politécnicos, sofrerão um efeito maior que esse, pois as do litoral não perderão tanto”.

INTERVENÇÃO O cenário negativo coloca ao IPCB desafios muito grandes, que no entender de Valter Lemos, implicam ações a vários níveis: “é preciso uma intervenção na política nacional de ensino superior. As instituições têm que ser capazes de influenciar as políticas nacionais de forma a que haja medidas que permitam obviar este problema. Para isso têm que ter capacidade de intervenção e reivindicação junto dos poderes políticos; num outro nível, tem que se intervir junto das fontes de captação de alunos, por um lado através da projeção da instituição no exterior e, por outro, garantir que a oferta formativa é afinada o melhor possível àquilo que pode ser a captação da procura. Ou seja, que os cursos que oferecemos são os que têm interesse”.

Àqueles fatores, Valter Lemos junta um outro: o da qualidade da oferta. “Ninguém manda um filho estudar para uma instituição em que não confia. Essa imagem é transmitida pela qualidade do que fazem e pelas atitudes junto dos parceiros”. O docente fala de uma forma genérica e considera que “os politécnicos perderam visibilidade com a crise e ficaram mais vulneráveis. A crise afetou mais os politécnicos, pelo que é preciso fazer aqui um grande esforço”.

A organização interna, a oferta formativa e as ligações da instituição ao mercado de trabalho, são “áreas em que é preciso agir com muita determinação”. Valter Lemos alude a um tempo em que “vai ser necessário mobilizar muita energia” e “romper com a indiferença”. O candidato destaca o crescimento da qualificação dos recursos humanos que a instituição teve nos últimos anos, com o aumento do número de professores doutorados.

A terminar, diz ter “muito respeito pelo trabalho dos dirigentes institucionais que me sucederam, que exerceram funções em tempo de grandes dificuldades e com ameaças muito fortes”.

 

Cara da notícia

Com larga experiência na gestão pública, Valter Lemos foi membro da Comissão Instaladora da Escola Superior de Educação do IPCB de 1985 a 1996, onde para além das funções diretivas exerceu os mais diversos cargos e funções como presidente do conselho científico, do conselho pedagógico, coordenador de departamento e coordenador de diversos cursos.

Atualmente é presidente do Conselho Técnico-Científico da ESE (desde 2014) e coordenador do curso de Administração Escolar. Foi presidente do Politécnico, eleito em três mandatos entre 1996 e 2005 (nos quais foram criadas as Escolas Superiores de Saúde e de Artes Aplicadas e a Escola Superior de Tecnologia e Gestão deu origem a duas escolas).

Depois da presidência do IPCB, Valter Lemos foi Secretário de Estado da Educação do XVII Governo Constitucional e Secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional no XVIII Governo. Licenciado em Biologia, Mestre em Educação e Doutor em Políticas Públicas, Valter Lemos é professor coordenador no Politécnico de Castelo Branco desde 1990. Desempenhou ainda as funções de vogal do Conselho Científico e Pedagógico da Formação Contínua entre 1996 e 2003; foi membro do Conselho Científico do Instituto de Inovação Educacional entre 1990 e 1994; e membro da Comissão Permanente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (de 2001 a 2005). Desde 2013 que é professor convidado do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, funções que também desempenhou na Universidade Católica Portuguesa. É investigador do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE-IUL, e perito investigador em diversos projetos nacionais e internacionais, dos quais o mais recente, que se encontra em curso -“The Career of Teachers”, em representação de Portugal, no âmbito da União Europeia.

É presidente da Assembleia Municipal de Castelo Branco desde 2002, reeleito recentemente pela 5ª vez.

 

Carlos Maia:  Estratégia forte

Carlos Maia, atual presidente do IPCB, reagiu ao Reconquista ao anúncio da candidatura de Valter Lemos. "Avizinham-se tempos difíceis para a instituição, pelo que é bom que haja candidatos com bons programas e que sejam capazes de protagonizar as mudanças que o instituto necessita", refere.

O atual presidente do IPCB diz que "iremos ter um problema muito sério, que é a demografia. Estima-se que a partir de 2019 haja um quebra de cerca de 2,4% ao ano de ingresso no ensino superior. Por isso importa ter uma estratégia muito sólida para garantir a captação de alunos que garantam o funcionamento do IPCB".

Carlos Maia acrescenta que "o aparecimento de candidaturas é sempre de saudar. O IPCB vai completar 37 anos e terá maturidade suficiente para fazer a melhor a escolha".

 

COMENTÁRIOS