Campo foi montado no parque de estacionamento do Kalifa. Foto Reconquista
Mais de 300 participantes em 26 equipas vindas de quase todo o país e ainda a seleção feminina oito vezes campeã do mundo, vinda do México, vão cruzar-se dentro de campo em Castelo Branco para jogar. Mas as semelhanças com a versão mais conhecida do chamado desporto rei esgotam-se na palavra futebol. São 15 minutos de jogo num campo de 22 por 16 metros, com balizas com proporções grandes para a dimensão do terreno de jogo. Em campo estarão apenas quatro jogadores por equipa, não há paragens no cronómetro e as regras são uma mistura entre futebol, futebol de salão e até andebol. Os cartões amarelos são poucos e não se mostra um vermelho há mais de cinco anos, numa média de 60 a 70 jogos por época. É destes ingredientes que se faz o futebol de rua, cujo torneio nacional terá este ano o seu desfecho em Castelo Branco, com os jogos a começarem esta sexta-feira, dia 6, decorrendo até domingo.
“É essa a beleza. Quem vê um jogo de futebol de rua garantidamente que não vai ver um 0-0 ou um 1-1. O marcador é expressivo por causa da tipologia do campo”, refere Gonçalo Santos, da Associação Cais, que dinamiza este projeto. “É o futebol no seu estado mais puro e o fair play como o seu principal ponto. Não são adversários mas amigos e amigas a fazerem aquilo que mais gostam”, disse ao Reconquista à margem da apresentação da grande final, que decorreu na Câmara Municipal de Castelo Branco. Mas o que distingue esta modalidade é o facto de envolver jogadores originários de contextos sociais vulneráveis e que encontram no futebol de rua “um espaço seguro para a sua aprendizagem e o seu desenvolvimento pessoal”.
O distrito de Castelo Branco entra em campo com uma equipa masculina e uma feminina, tendo como promotora a associação ADM Estrela, que é responsável pela Casa de Acolhimento Residencial de Jovens de Castelo Branco, situada no bairro do Cansado. O percurso no futebol de rua leva cerca de cinco anos e tem dado frutos.
“O distrital tem corrido muito bem e temos sido elogiados pela Associação Cais pela forma como tem decorrido”, refere Tiago Machado, o diretor técnico desta casa de acolhimento. A responsabilidade de organizar a grande final é vista como mais um passo na afirmação da modalidade, depois de ainda recentemente a albicastrense Neuza Nóbrega ter feito parte da seleção que deu a Portugal um quarto lugar no campeonato do mundo, realizado na Califórnia. A jogadora “era uma heroína para os jovens de outros bairros” não só pelo futebol mas também por ser bombeira e ter participado em missões como o resgate às vítimas do sismo na Turquia.
“Sentimos que o desporto é a melhor ferramenta para capacitar, mudar comportamentos e mentalidades dos jovens. É bom ensinar que é preciso ir mais além e sentimos que para os nossos jovens isto é uma ferramenta fundamental e fantástica”, afirma Tiago Machado. A ADM Estrela é promotora da comitiva distrital mas a seleção conta com jogadores de vários concelhos do distrito, oriundos de instituições como o Abrigo de São José no Fundão ou o Instituto Pina Ferraz em Penamacor. O distrito terá este ano uma equipa masculina e outra feminina mas no ano passado foi a jogo com uma equipa mista, outra das originalidades desta modalidade, que é também diversa nas idades.
“Uma equipa pode ter filho, mãe e avô. Por acaso com três gerações nunca aconteceu mas com duas já aconteceu”, explica Gonçalo Santos.
CALENDÁRIO Os jogos da fase de grupos arrancam às 9H00 de sexta-feira, dia 8, decorrendo nesse dia até cerca da meia-noite. No sábado começam às 9H30 ainda em fase de grupos e a partir das 21H00 disputam-se os quartos-de-final. No domingo a partir das 9H00 há meias-finais e a partir das 10H00 o apuramento para a classificação geral. Depois do almoço é a vez de definir os terceiros e quartos classificados e a final está marcada para as 14H30. O programa começou esta quarta-feira à noite (depois do fecho desta edição) com o sorteio no Cine Teatro e esta quinta-feira a partir das 16H30 dá-se o desfile das equipas, com a cerimónia institucional e o jogo de boas-vindas. O estádio está montado no parque de estacionamento do Kalifa, o que traz alguns condicionamentos de circulação não só nesta zona como também em frente à Câmara Municipal de Castelo Branco. O presidente do município justificava a escolha deste local e não de espaços como a zona de lazer com o espírito da modalidade.
“O futebol de rua sempre aconteceu no centro das localidades e foi também com base nisso que decidimos que se realizaria aqui no centro da cidade”, disse Leopoldo Rodrigues ao Reconquista. Segundo o autarca ainda chegou a ser ponderada a localização dos campos no coração do centro cívico mas a equipa técnica entendeu que haveria melhores condições no parque de estacionamento. Pede por isso a compreensão dos albicastrenses, lembrando no entanto que Castelo Branco “é das poucas cidades e talvez a única capital de distrito onde o estacionamento não é pago. E também temos parques de estacionamento com valores de hora bastante baixos”.
Este torneio não é só bola e haverá ainda um programa com visitas a espaços culturais da cidade e formação para jogadores, técnicos e árbitros, envolvendo mais de 300 participantes sem contar com os familiares.
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