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Leitores: Cebolais de Cima. Registo de vidas e mortes passadas

António Luís Caramona - 13/07/2023 - 9:42

Como se sabe, a Torre do Tombo é, por excelência, o Arquivo onde se poderão investigar os registos paroquiais quinhentistas da paróquia de Santa Maria do Castelo que, até ao século XVIII...

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Como se sabe, a Torre do Tombo é, por excelência, o Arquivo onde se poderão investigar os registos paroquiais quinhentistas da paróquia de Santa Maria do Castelo que, até ao século XVIII, abrangia as actuais Carapetoza, Amarelos, Cebolais de Cima, Represa, Retaxo, Benquerenças (Cimeira ou da Igreja, do Meio, Fundeira, da Azinheira) e Maxiais, estendendo-se ainda para a margem direita do rio Ocresa para a Taberna Seca, desanexada da freguesia de Benquerenças em finais do século passado.
Será aí, bem como nos registo microfilmados do Arquivo Distrital de Castelo Branco, onde se poderão encontrar, por exemplo, mais informações como estas que estão numas notas de rodapé numa edição dos Estudos de Castelo Branco (do ano de 1965): « filha legitima de domingos gonçallves e de ana diaaz moradores no cebolal aos XXX dias de setembro da sobredita era de 1547 eu vigário bautizej Maria padrinhos antonio fernandez e diogo afonso … e afonso gonçallvez e maria fernandez moradores no termo de rodão e antonio fernandez no cebollal e maria fermandez em malpiqua Assigna frej simão afonso ». 
E, mais à frente noutra nota: «Aos sete de janeiro de 1572 faleceo antonio fernandes morador no monte do cebulal de cima nam fez testamento jaz enterrado dentro da jgreia em sua cova de jaziguo».
Anos mais tarde, no volume II da Corographia Portugueza, pelo Pª. António Carvalho da Costa, editada em 1708, ao referir-se à comarca de Castelo Branco, refere o Autor: «... o Sabollal fica duas legoas de Caftello Branco para Poente & tê 40 vifinhos com duas Ermidas...». As ermidas eram as actuais da Nossa Senhora dos Prazeres e da Nossa Senhora de Belém e por “vizinhos” entendam-se as casas de habitação, calculando-se a população em cerca de duas centenas de pessoas. A Paróquia de Cebolais de Cima é datada de 29 de Julho de 1721, conforme alvará e ordens de D. João V, em resposta a um pedido «…expresso pelo povo dos Sabollaes a el-rey». Inicialmente, a paróquia abrangia «os povos de Sabollaes, Rotaixo, Repreza, Amarellos, Carapetoza e Monte Novo…» sendo este, à época, distinto do Monte do Rotaixo e que nele hoje se encontra completamente integrado.
A criação da freguesia de Cebolais ainda tardou e foi criada, também, em resposta a um pedido feito pelo povo a El Rei em Maio de 1796. Oficialmente, foi criada em 1849, cento e vinte e oito anos após a criação da Paróquia e passou a abranger Cebolais, Retaxo e Represa. Alguns nos mais tarde, em 1881, a freguesia de Retaxo, tendo como anexa a Represa, torna-se freguesia autónoma.
Em 1843 era Vigário da Paróquia de Santa Maria do Castelo Frei João Nunes Geraldes, e Capelão em Cebolais o Pª. João Manoel de Carvalho, como consta num interessante registo que reza assim: «,,,Joaquim José Pereira Calção, natural dos Cebolais de Cima, e desta freguesia, faleceu com os Sacramentos em cinco de outubro de mil oito centos e quarenta e três, não fez testamento e jaz no Adro da Igreja dos mesmos Cebolais e que consta da memória que me enviou o Capelão João Manuel de Carvalho. Assinado: o Vigário Geral Frei João Nunes Geraldes».
Isto é, por não estar autorizado a fazer o assento da morte em livro próprio para esse efeito, o Capelão dava conta para Castelo Branco onde, então o Vigário, esse sim, assentava no Livro respectivo. E assim foi até ao assento do registo da morte de Ana Joaquina, casada com Francisco da Rita, que terminou com a dependência de Cebolais à paróquia de Santa Maria do Castelo. Estávamos a 4 de Setembro de 1849 quando é transcrito o termo de abertura do Livro que, diz, «Há de servir este Livro para assentos dos óbitos da Freguesia de Nossa Senhora dos Prazeres dos Cebolais de Cima...., Assina o Vigário Geral José Marques Leitão». E é com o seguinte assento de morte que o Livro é aberto «Aos seis dias do mês de Outubro de mil oitocentos e quarenta e nove faleceu da vida presente Maria, menor de idade filha de Manuel Duarte e Ana Antunes naturais dos Cebolais de Cima, Freguesia de Nossa Senhora dos Prazeres, foi sepultada no Cemitério da minha Freguesia com a devida decência. O Cura Encomendado João Manuel de Carvalho».
Para rematar estas curiosidades, ainda no mesmo ano, o quinto registo, datado de 24 de Outubro conta o seguinte; «… faleceo da vida prezente hum inocente filho de Joze Louro e Ellena Vas…» e, dois dias depois, com data de 26 de Outubro, lê-se que «… faleceu Ellena Vas casada com o Joze Louro…». Isto é, se a criança morreu a 24, sem ser baptizada nem ter nome, daí a referência a «inocente» e a mãe dois dias depois, decididamente, foi porque ambos não resistiram ao parto.
E trigémeos, nasceram alguns? Pois sim, regista-se o seguinte e eram todas meninas, todas recém-nascidas, todas foram a enterrar no mesmo dia: 19 de Janeiro de 1863. Estavam baptizadas, chamavam-se Maria, Izabel e Rozalina e eram filhas de Domingos Frey e Máxima Rodrigues. O Frey, que depois deu os Freire, era tecelão.
Estas curiosidades, às vezes, até dão para imaginar dramas como aquele das mortes dos gémeos recém-nascidos, filhos de pai incógnito e de Maria Caixeirinha. E foi assim que as coisas aconteceram: no dia 2 de Fevereiro, corria então o ano de 1871, enterrou-se a Anna, e no dia seguinte enterrou-se o Manoel. Como o caso de outras gêmeas, falecidas ambas a 16.11.1873 e as duas baptizadas com o nome de Maria, filhas de Manoel Moura e de Maria Liberata.
Porém, o mais curioso dos registos de mortes, e aquele que dá mais que pensar, aconteceu em 1884.
Eis, então, como as coisas se passaram: a 3 de Agosto morreu Manoel Calção, filho de Manoel dos Santos Calção e Leonor Mouta, tinha 50 anos e estava casado com Martinha Jorge. Oito dias depois, no dia 11, morreu Rozaria Calçôa, casada com João Faustino. Tinha 67 anos e era irmã do recém-falecido Manoel Calção. Porém, no dia seguinte, dia 12, morreu Martinha Jorge que estava viúva há pouco mais de uma semana pois estava casada com Manoel Calção e, como tal, era cunhada da Rozaria Calçôa. Ainda neste mesmo dia 12 morreu Rozaria Cabrita, casada com António Moura, filha de Joze dos Santos Calção e Maria Ganhoa. Tinha 55 anos e era prima direita do Manoel Calção e da Rozária Calçôa.
Perante tantas mortes em tão curto espaço de tempo não será caso para perguntar: - Deu-lhes o mal murcho, ou terão todos eles comido dos mesmos tortulhos ao jantar?
António Luís Caramona
paudegiz@gmail.com

 

COMENTÁRIOS

JMarques
No ano passado
Resenha histórica com alguma tristeza e miséria à mistura.