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Tempos de incerteza

Luís Beato Nunes - 09/11/2017 - 10:31

Ouvia este fim-de-semana passado um comentador na Antena 1 a referir-se aos indicadores saudáveis da economia americana com a Administração Trump, mas não podia deixar de pensar que a recente tendência de crescimento económico e baixas taxas de desemprego já havia começado nos últimos dois anos da Administração anterior.
O discurso inflamado da atual Administração e as medidas destinadas a “proteger” os interesses americanos estão longe de justificar a criação de emprego que felizmente se tem assistido. 
Muita desta criação de emprego deve-se à redefinição estratégica de várias multinacionais que se aperceberam que o capital humano ainda reside nos países mais desenvolvidos e que não é facilmente exportável.
O comentador referia-se ao desempenho pujante do mercado de capitais para suportar a sua argumentação de que a economia americana mostrava sinais de grande solidez, mas este é um erro que, infelizmente, parece estarmos condenados a repetir.
É verdade que os mercados de capitais têm tido excelentes desempenhos, mas demasiado excelentes para o comportamento da economia real e, sobretudo, muito alavancados num período demasiado longo e inaudito de taxas de juro dos principais bancos centrais do mundo muito próximas de zero.      
A capitalização bolsista muito acima da riqueza produzida por um país é um indicador claro para antecipar bolhas especulativas nestes mesmos mercados e que acabam por ter como principal consequência períodos de estagnação económica e o reequilíbrio das expectativas desajustadas dos agentes económicos.
Atualmente, a capitalização bolsista nos EUA representa cerca de 138% da riqueza produzida neste país, tendo corrigido de valores anormalmente muito elevados registados nos dois últimos anos, superando mesmo os 150%.
Esta relação é igualmente visível em alguns países europeus, como Espanha, Itália e França, sendo que no caso do primeiro, a recente crise política na Catalunha veio refrear os ânimos nestes mercados, assim como as próprias previsões de crescimento económico para este país. 
Mas os sinais de que as expetativas presentes dos agentes económicos não se adequam ao potencial de crescimento futuro não se revelam apenas na sobrevalorização do mercado de capitais, mas também em alguns mercados de ativos tangíveis.   
Em Portugal, o mercado do imobiliário vive um boom insustentável, sobretudo nos principais centros urbanos, como Lisboa e Porto, mas sobretudo na capital onde o acréscimo da procura motivado pelo turismo não explica tudo e onde as rendas têm subido de forma inaudita nos últimos dois anos. 
Quanto à União Europeia, resta saber como resistirá a uma possível crise financeira vinda dos EUA e face às várias eleições nacionais entre 2019 e 2020, onde os populismos nacionais estarão presentes.
Não, não vem aí o Diabo, mas um novo ciclo económico poderá começar em 2020 com consequências para todos os agentes económicos que tomam as suas decisões no presente, assim como outros ciclos já ocorreram no passado e esta é a minha oportunidade de escrever que o “rei vai nu”. 
Infelizmente, parece que insistimos em cometer os erros coletivos de que sempre nos arrependemos, mas esquecemo-nos das vidas afetadas pelas decisões presentes que não acautelam adequadamente o futuro dos que nos são mais queridos.

luis.beato.nunes@gmail.com

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